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Por que o investimento do Flamengo em estrutura auxiliar do futebol é deficiente?


Se o Flamengo tem tanto dinheiro, porque o investimento na estrutura auxiliar do futebol (fisiologia, scouting, etc.) é tão deficiente? Amigos, queria ser chato, mais uma vez, e propor uma análise das causas do problema aparente da vez.

Durante minha campanha ano passado, fiz uma analogia desse barreira rubro-negro, com uma ferida crônica do Brasil: a falta de vontade política para investir em saneamento básico. 

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Isso é surpreendente porque está mais que provada a importância do saneamento para diminuir o gasto público em outras áreas, especialmente na saúde. Então, se é um investimento que se paga, por que nenhum governante quer fazer? 

Os analistas políticos dizem que é por ser uma obra invisível. Canalização embaixo da terra, que não aparece, cujos resultados indiretos em melhoria na saúde só aparecem no longo prazo. Depois do fim do mandato do governante. 

O que isso tem a ver com o Flamengo? Bem, lembremos que o clube é uma entidade política, como o Estado brasileiro. Dessa forma, investimento que não aparece, que não dá voto, acaba ficando de lado. O foco do gestor político é sempre a próxima eleição. É assim que é. 

Como isso se traduz no Flamengo? Vejamos o investimento no futebol. Não faltam recursos para uma estrutura física de CT de primeiro mundo, para contratações de jogadores e treinadores midiáticos. Isso aparece, é fato político. 

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Mas quem quer investir em um departamento de scouting de excelência? Isso não dá IBOPE, não dá prestígio. E se não dá prestígio não gera capital político. Ninguém quer saber quem montou o melhor departamento de fisiologia das Américas, mas quem contratou o Vidal

É preciso ser justo e dizer que esse não é um problema apenas do futebol. Outros departamentos, como o marketing e a administração, recebem investimentos muito aquém do que seria necessário. Mas porque devemos ligar para eles? 

Bem, como no exemplo do saneamento, o investimento em marketing e administração impactam indiretamente, e as vezes contundentemente, o departamento de futebol. Um departamento de marketing sub investido, por exemplo, significaria uma performance comercial limitada. 

Porque ou você não consegue contratar os melhores profissionais, ou se contrata, não consegue retê-los. E a perda de receita comercial irá impactar a capacidade de investir do futebol cedo ou tarde. 

No departamento de administração, outro exemplo, a ausência de uma política moderna de RH, de um plano definido de cargos e salários, irá afetar o marketing, que afetará o futebol. Vejam, está tudo interligado. É um mesmo mecanismo. 

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E pra ser justo novamente, é preciso reconhecer que esse não é um problema exclusivo do Flamengo. Via de regra é assim que os clubes brasileiros são geridos. Na verdade é bem difícil para qualquer gestor no Flamengo fugir do problema. 

Se ele tem a caneta na mão, muito provavelmente vai decidir onde investir com um olho na política. A pressão no dia a dia é enorme. Quando você não está inebriado pela vitória, está massacrado pela derrota. É 8 ou 800. 

Oto Glória costumava dizer que no futebol, quando você vence é bestial, quando perde é uma besta. Entendo a pressão absurda a qual está submetido quem está sentado na cadeira. Entendo porque eu já estive por quatro anos trabalhando no Flamengo e sei como é. 

Assim, não adianta focar nas pessoas. Não adianta fulanizar o problema, porque o sistema tende sempre a controlar as pessoas, não o contrário. Então não tem jeito? Não tem solução? 

Sim, tem solução. A solução está em diminuir significativamente o poder dos gestores voluntários para tomar decisões. E isso se faz com uma estrutura de governança sólida, que garanta que decisões técnicas, alocação de investimentos, etc. serão tomadas por profissionais. 

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Porque isso funciona melhor? Bem, o gestor profissional a princípio está menos comprometido com o dividendo político de suas ações. Pensa no que é melhor a longo prazo, não nas urnas. 

Claro, mesmo nas empresas existe política. Faz parte da natureza humana. Mas uma gestão profissional de excelência, blindada por uma governança sólida, permite diminuir muito a interferência política. 

Quando isso acontecer, se acontecer algum dia, vamos ver os investimentos no Flamengo sendo feitos com base no que interessa ao clube, não ao político gestor da ocasião. 

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