Diego Ribas e Diego Alves reencontram e abraçam Rogério Ceni em partida entre Flamengo e São Paulo (Imagem: Marcelo Cortes / Flamengo)
Já virou rotina. Sempre quando o técnico do São Paulo, Rogério Ceni, enfrenta o Flamengo, uma fila de jogadores rubro-negros se forma para cumprimentá-lo e abraçá-lo. O gesto de carinho antes das partidas – algo que deve se repetir hoje (24), às 21h30, no Morumbi (SP), pelo jogo de ida das semifinais da Copa do Brasil — é apenas um dos legados que o treinador deixou em sua intensa passagem pelo Rubro-Negro, que culminou com títulos do Campeonato Brasileiro, da Supercopa do Brasil e do Campeonato Carioca.
Foram apenas cerca de oito meses no comando da equipe, mas o período foi agitado. Mesmo entregando conquistas, nunca foi unanimidade entre os torcedores e sua demissão foi consumada após oscilações no Campeonato Brasileiro de 2021, quando a pressão aumentou sobre o seu trabalho. Pesou também para a decisão documentos vazados e um áudio de um ex-analista de desempenho detonando o treinador.
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Porém, as fortes críticas do profissional demitido posteriormente, e que evidenciaram um desgaste pessoal com o técnico, parecem ser a opinião de uma minoria, principalmente entre os jogadores. No elenco, a maioria tem um sentimento de carinho e gratidão por Ceni, segundo pessoas que trabalharam com o treinador no período e que foram ouvidas pelo UOL Esporte.
A pequena parcela de desaprovação é encarada com naturalidade pelos mesmos dentro de um ambiente de times de futebol, principalmente se comparado a outros treinadores recentes que passaram pelo Flamengo, onde tais pessoas garantem que atritos no dia a dia foram muito mais graves e intensos, incluindo o multicampeão Jorge Jesus, visto publicamente como uma unanimidade. Ceni, por exemplo, tem o carinho do atacante Gabigol, visto por muitos como uma “pessoa difícil”.
Ex-preparador de goleiros do Rubro-Negro, Wagner Miranda elogiou Rogério Ceni e sua participação nas atividades com os arqueiros.
“Em relação aos goleiros, era uma referência para todos. Sempre que podia, participava das atividades, e isso levava o dia de treinos específicos dos goleiros lá em cima. Mas, claro, eu tinha total liberdade para seguir minha metodologia de trabalho. Foi muito bom para mim ter adquirido um pouco mais de experiência na convivência com ele”, declarou.
Entre os dirigentes do departamento de futebol também há respeito e admiração pelo atual técnico do São Paulo, incluindo o vice de futebol, Marcos Braz. Presente na sede da CBF, na semana passada, para o sorteio dos mandos de campo das semifinais da Copa do Brasil, ele foi questionado pelo UOL Esporte se estava próximo ao troféu da competição para “buscar bons fluídos” e aproveitou o gancho para citar o treinador.
“O troféu é bonito, mas sequer estamos na final. Temos que respeitar o São Paulo, a história do São Paulo e mais do que isso: respeitar um treinador que hoje está do outro lado, mas que foi campeão brasileiro, da Supercopa e do Carioca aqui. Então, o Flamengo tem que respeitar muito a história e quem é que está do outro lado para que possamos, com segurança e calma, tentar chegar a uma final e buscar um título tão importante como a Copa do Brasil”, disse o dirigente na ocasião.
Morou no CT e fez ‘releituras’ táticas para Arão e Diego
Obcecado por trabalho desde os tempos de atleta, Rogério Ceni morou no centro de treinamento Ninho do Urubu para intensificar sua adaptação e seu relacionamento com jogadores e funcionários. Algumas vezes, acordou de madrugada para desenvolver trabalhos táticos no campo munido de uma lanterna.
Entre o elenco, a visão profissional foi a de que era um treinador moderno, intenso nos trabalhos do dia a dia e com um vasto leque de possibilidades táticas. Entre os seus méritos estão as “releituras” de posicionamento de Diego Ribas e Willian Arão.
Foi com o treinador, por exemplo, que Diego passou a jogar de volante e voltou a “se encontrar” taticamente no meio de campo, já que não vinha mais rendendo como armador. Já Arão foi recuado como zagueiro e também correspondeu. A ideia com o reposicionamento da dupla era melhorar a saída de bola, algo que deu certo e que contribuiu para arrancada ao título brasileiro, da Supercopa e do Carioca.
Demitido na madrugada, Ceni não aceitou acordo
Outro ponto inusitado da passagem de Ceni foi sua demissão. O comunicado oficial do Flamengo aconteceu às 2h46 de sábado e, horas depois, o clube informou a contratação de Renato Gaúcho como substituto, treinador que, na época, gerava um certo clamor popular dos rubro-negros.
Rogério, por sua vez, não aceitou o acordo de demissão proposto pela diretoria. O técnico – que possuía contrato até o fim de 2021 – ainda tinha cerca de R$ 3 milhões a receber, mas o vencimento era dividido entre carteira de trabalho e direitos de imagem. E a exigência do pagamento integral ocorreu somente em relação à carteira de trabalho. Ao todo, foram 45 jogos de Rogério Ceni no comando do Flamengo, com 23 vitórias, 11 empates e 11 derrotas. Um aproveitamento de 59,3%.
Reencontros amargos: Ceni perdeu todos os jogos em que enfrentou Fla
O carinho dos jogadores do Flamengo antes das partidas contra Rogério Ceni tem sido notório, no entanto, quando a bola rola, o elenco tem sido cruel com seu ex-comandante. Desde que o treinador deixou o clube, ele enfrentou o Rubro-Negro oito vezes e foi derrotado em todas. Foram quatro pelo São Paulo, três pelo Fortaleza e uma pelo Cruzeiro. Um total de 19 gols sofridos e apenas quatro marcados.
O último revés aconteceu há 19 dias, pelo Campeonato Brasileiro, quando o Flamengo venceu com o time reserva por 2 a 0 em pleno Morumbi (SP).
Carinho, respeito, títulos
3 visitas – Fonte: Uol
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