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Dispensado do SPFC, ex-cria de Cotia supera doença rara e recomeça carreira


Aos quatro anos, Peterson tinha como brinquedo favorito a bola. O pai, que chegou a atuar nas categorias de base do

Goiás

, notou esse amor e resolveu incentivá-lo.

Para fazer o menino se desafiar dia após dia, havia uma recompensa. “Meu pai me colocava para treinar e chutar com as duas pernas. ‘Se você chutar ali, vai ganhar um picolé’. Ele fazia disso uma brincadeira”, conta.

Logo, Peterson começaria a chamar a atenção pelo seu

futebol

e pelos gols. Antes de atuar pelo

São Paulo

, o atacante jogou nas categorias de base do

Flamengo

dos nove aos 13 anos de idade e foi campeão da ‘Go Cup’, torneio mundial de futebol infantil.

Com 14 anos, chegou ao Tricolor paulista e mal acreditava na estrutura que via no centro de treinamento de Cotia, mas o jovem não teve muito tempo para se acostumar.

Em 2020, com o início da pandemia, o trabalho presencial deixou de ser rotina para muitas pessoas, inclusive atletas.

Peterson retornou para Goiás — seu estado de origem, onde sua família vive — e aproveitou o período para se dedicar à preparação física.

O objetivo era continuar trabalhando até voltar para Cotia. Só que o mundo atravessava por uma das maiores crises sanitárias de sua história, muita coisa ainda mudaria.

Para o menino que tanto gostava de futebol, isso não seria diferente. Porém, em meio ao clima de incerteza daquele momento, ele ainda foi diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré.

Uma raridade inesperada

Essa era a resposta para a falta de força e as fortes dores. Seu próprio corpo passou a atacar os nervos. Depois de um dia intenso de treino, Peterson seguiu a sua rotina, mesmo sendo um sábado.

Pela manhã, notou que a perna estava mais pesada, mas acreditava que poderia ser cansaço pela intensidade do dia anterior, até ser obrigado a parar diante de tanta dor.

“À tarde, fui nadar na piscina e não consegui. Não tinha força. Achei estranho. Chamei minha mãe. À noite, eu tentei fazer uma flexão. Quando desci, já não conseguia levantar.”

A partir desse episódio, a equipe médica levou 19 dias para descobrir o que se passava com o ex-cria de Cotia. De covid-19 a

trombose

venosa, até a suspeita.

“Fui internado e, no dia seguinte, foi feito o exame que confirmou que eu estava com a síndrome. Foi um baque, sabe? Foi muito difícil escutar isso. Eu tinha 15 anos”.

Sem conhecer muito sobre a síndrome de Guillain-Barré, Peterson resolveu pesquisar na internet e chama essa atitude de “a pior coisa” que fez.

“Quando fiz a pesquisa, o que eu li me fez imaginar que a minha vida tinha acabado.” Havia a possibilidade de nunca mais voltar a jogar bola. Porém, ainda no hospital, ele conseguiu ter perspectivas diferentes.

Motivos para recomeçar

Em seu perfil no Instagram, o jovem falou sobre o diagnóstico da doença. Para a sua surpresa, recebeu apoio de muitas pessoas, inclusive de torcedores do São Paulo e de Diego Freestyle.

“Ele chegou a me mandar mensagem, dizendo que eu o ajudava com as coisas do dia a dia. Aí, eu vi aquilo e eu falei: ‘nossa, o Diego está falando isso pra mim’. Ele me deu muita força”, relembra o jovem.

Mesmo perdendo peso e vendo a própria força se esvair em situações corriqueiras, como abrir o registro do chuveiro ou apertar o aerossol do desodorante, Peterson persistiu.

“Eu pensei: ‘Bom, eu posso deitar aqui nessa cama e chorar, me deixar ser vencido por uma coisa que não tenho controle nenhum ou tentar reagir. Mudar não só a minha vida, mas a de outras pessoas'”, recorda.

Diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré, Peterson chegou a perder 15 kg - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal

Diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré, Peterson chegou a perder 15 kg

Imagem: Arquivo pessoal

Entre altos e baixos, como ele mesmo diz, o ex-atleta da base tricolor foi encontrando meios para lidar com as dificuldades.

Inicialmente, o tratamento foi com uma preparação de imunoglobulina — proteína que ajuda no equilíbrio do sistema sanguíneo —, em seguida evoluiu para a alimentação adequada e fisioterapia.

Os dias de Peterson eram praticamente dentro de uma clínica especializada, onde ele chegava por volta das 13h e saía às 22h30.

Em meio à rotina pesada, ele encontrava refúgio nas palavras, nos ídolos e na família. Com o diagnóstico, o jogador começou a escrever um diário, onde relatava os desafios com a doença, mas também a sua evolução.

Na busca por inspirações, ele passou a estudar grandes atletas, como Cristiano Ronaldo (Manchester United-ING) e Kobe Bryant, do basquete.

“Queria entender a razão de pensarem daquela forma, de serem insaciáveis e de acharem que nunca estavam bem o bastante. Foi com certeza isso que me ajudou”, afirma o adolescente.

Os pais e o irmão acompanhavam tudo de perto, sempre o incentivando. As conversas, principalmente com a mãe, que convive com a

esclerose múltipla

, ajudavam Peterson a continuar.

A mente também não ficou de fora. O garoto teve o suporte do São Paulo, que disponibilizou psicólogos. “Foi graças ao clube que eu vi que tinha capacidade para seguir o meu sonho dentro do futebol”, aponta o adolescente.

O recomeço

Em março deste ano, Peterson voltou ao CT de Cotia. Ao falar sobre o seu retorno, ele enfatiza o acolhimento que teve e cita o episódio que marcou a sua reestreia nos treinos.

Após cumprir as suas atividades, o atleta costumava sentar no banco de reservas e acompanhar o treino dos companheiros.

Altair Ramos, ex-membro da comissão técnica bicampeã mundial pelo São Paulo e atualmente coordenador de performance da base, viu Peterson ali e o questionou.

“Eu respondi que estava assistindo ao treino e foi aí que ele disse que eu iria treinar”, recorda Peterson, que ficou surpreso com a resposta.

Emocionado, partiu para o vestiário para pegar a chuteira e participar das atividades. No trajeto, relembrou da saga que enfrentou ao longo dos últimos dois anos, mas segurou as pontas para não desatar no choro ali mesmo.

“Pensava que precisava respirar e trabalhar bem: ‘Não é hora dessas emoções tomarem conta de mim e tudo. Calma.'”, conta o jogador.

A volta ainda foi em grande estilo, com direito a gol. No fim do treino, agradecimentos aqui e ali, até partir de volta ao vestiário. Desta vez, não tinha pensamento capaz de conter as lágrimas de emoção.

O atacante aproveitou para contar a novidade aos seus pais, que também não conseguiram segurar a felicidade em ver o filho retornar ao sonho.

Após cinco meses de sua volta, o vínculo entre jogador e clube foi encerrado. “Eles queriam algo para imediato e não era o meu caso. Até porque eu fiquei praticamente dois anos sem jogar futebol. Então, eles optaram por me liberar”, explica o jovem.

Ao deixar o Tricolor paulista, novas oportunidades surgiram, mas o adolescente entendeu que seu lugar era em Goiânia, ao lado da família.

Ao olhar para trás, ficou a lição de valorizar pequenas conquistas. Curado, hoje, Peterson vive a

ansiedade

de estrear oficialmente em campo.

“Já joguei algumas partidas, mas nenhuma foi oficial porque eu ainda não podia estar inscrito. Estou muito ansioso, mas preciso ter paciência”, admite.

Peterson em ação pelo Goiás - Waldir Fotografo - Waldir Fotografo

No Goiás, Peterson já fez dois jogos não-oficiais e aguarda a sua estreia

Imagem: Waldir Fotografo

Recentemente, ele assinou contrato com o Goiás, clube onde tem a chance de continuar a trilhar a sua história no futebol.

Aos 17 anos, o atleta tem muitos sonhos. Se seguir no esporte, ao se aposentar, pretende cursar medicina, mas também gosta da ideia de ser treinador.

“Eu tenho vontade de fazer muita coisa, sabe?”, explica. “Em um curto prazo quero começar uma faculdade, até para ter dois caminhos. Eu acho que isso é muito importante para um atleta de futebol”.

Além da carreira, ele gostaria de futuramente fazer do seu diário um livro. Para Peterson, a sua história pode ajudar outras pessoas e mesmo que não possa publicá-la, quer deixá-la para a eternidade.

“É algo que eu quero passar para os meus netos. Será uma coisa que vai estar para sempre no mundo”, concluiu.

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