Notícias

Vítor Pereira e o possível choque cultural no Flamengo


Técnico Vitor Pereira no Fenerbahçe – Foto: Divulgação

O GLOBO: Por Carlos Eduardo Mansur

Há alguns aspectos fascinantes na chegada de Vítor Pereira ao Flamengo — nenhum deles ligado às questões familiares que o fizeram deixar o Corinthians, afinal, temas pessoais devem ser tratados apenas por quem os vive. O caso é que todo encontro entre um treinador e um elenco envolve adaptações das duas partes, especialmente quando o pano de fundo é a mudança para um novo país, para uma realidade com tantas peculiaridades como o futebol brasileiro. Vítor Pereira passou por isso em 2022, admitiu ter aberto mão de convicções diante de um dos calendários mais exigentes do mundo. Agora, ao trocar São Paulo pelo Rio para seu segundo ano no Brasil, será curioso ver para que lado penderá a balança do treinador: para as suas convicções de futebol ou para os obstáculos impostos pelo ecossistema brasileiro.

Quando desembarcou por aqui, Vítor Pereira afirmou que havia aspectos inegociáveis em seu jogo: a pressão ofensiva, a recuperação rápida de bola no campo de ataque, a busca por defender pelo menor tempo possível perto de sua área. Poucas semanas depois, concluiu que o calendário brasileiro o obrigava a fazer concessões, como se desse um passo na direção do pragmatismo. É fato que havia especificidades no elenco que herdou no Corinthians, da faixa etária dos principais jogadores à sucessão de lesões que reduziram demais suas opções em dado momento do ano.

Agora, o português encontra no Flamengo um elenco ainda mais forte do que dirigiu em 2022, mas submetido a um calendário ainda mais rigoroso, com Mundial, Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana acrescidos aos já fartos compromissos regulares dos grandes clubes do país. Resta saber se teremos um Flamengo que tentará jogar como o treinador gosta, com a pressão ofensiva e a agressividade que ele próprio diz ser um pilar de suas equipes, ou se Vítor Pereira sentirá que precisa repetir as concessões que fez no Corinthians. Em teoria, um setor ofensivo com Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Pedro — em dado momento pode retornar Bruno Henrique — parece leve, mas este time teve ótimos momentos em pressão ofensiva em jogos importantes nos últimos anos.

Quando se fala em adaptações, outro tema importante diz respeito ao sistema de jogo. Não é possível dizer que a passagem do treinador pelo Corinthians tenha sido um samba de uma nota só. Inclusive porque as circunstâncias impuseram. Em momentos de muitos desfalques, Vítor recorreu a uma linha de cinco defensores, por exemplo. No entanto, sua carreira vê uma predominância do 4-3-3, sistema que não parece de tão fácil execução no Flamengo. Gabigol sempre se sentiu mais à vontade com uma dupla e, em 2022, Dorival Júnior conseguiu criar um entendimento dele com Pedro, algo que sempre fora desafiador. A presença de meias como Arrascaeta e Everton Ribeiro também contribuiu para que, nos últimos anos, o Flamengo invariavelmente rendesse melhor num 4-4-2. A questão é ver que formação está na cabeça do português para um Flamengo que, ultimamente, reagiu mal a mudanças de formato.

O Flamengo terá na próxima temporada um técnico que viveu no Corinthians os claros efeitos da adaptação, com boas doses de um choque cultural em sua chegada ao Brasil. Sua temporada em São Paulo deixou sensações conflitantes: em dado momento, o time teve mais resultados do que desempenho, chegou ao final do ano sem sequências exatamente brilhantes, mas jogou uma bela final de Copa do Brasil contra o próprio Flamengo. Em 2023, as armadilhas do futebol brasileiro não serão mais novidades. Resta saber se tentará enfrentá-las com seus princípios de jogo ou dando sequência ao seu exercício de adaptação ao contexto do país.

Link do Artigo do FlaResenha

E pra você que curte o mundo esportivo -- entre agora mesmo em Palpites GE e tenha sempre em mãos as melhores dicas de investimento no futebol brasileiro e internacional.