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Um novo Flamengo está nascendo


Estamos em abril de 2022 e o Flamengo ainda vive, entre encontros e desencontros, o rescaldo do seu ano mágico de 2019, como um cara que finge que superou, posta foto na balada, viaja todo fim de semana, só fala de tinder, mas queria era estar com a ex maratonando reality show de bolo na Netflix. 

Porque tudo que aconteceu, desde o começo da temporada de 2020 até o empate desta noite, contra o Palmeiras, é reflexo direto, em um grau ou outro, daquele Flamengo multicampeão arquitetado pelo treinador – e Dom Sebastião oficial do folclore rubro-negro – Jorge Jesus.

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Domenec Torrent, por exemplo. Chegou com a missão de, tal qual JJ, trazer pedigree europeu para a Gávea e criar, com uma lógica e uma tática diferentes, um novo e melhorado Flamengo. Infelizmente esse novo Flamengo tinha Gustavo Henrique titular, infelizmente esse novo Flamengo tomava quatro gols por jogo, e o auxiliar do Guardiola rapidamente abandonou o comando da equipe rubro-negra para assumir a fascinante função de ex-treinador que fala sobre como é muito complicado comandar o rubro-negro.

William Arão em um dos poucos momentos em que não estava discutindo com o técnico. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Mas se Dome foi a namorada totalmente diferente que o Flamengo achou que faria sumir a memória “daquela que foi embora”, quase um manic pixie dream catalão, tanto Rogério Ceni quanto Renato Gaúcho foram tentativas desesperadas de encontrar alguém ao menos parecido com aquela ex inesquecível. “Vamos recuperar o trabalho que já deu certo”, Ceni dizia. “Com esse time eu ganho tudo”, se gabava Renato. Mas da mesma maneira que a canção do artista Leoni diz que “depois de você os outros são os outros e só”, depois de Jesus, Rogério Ceni era apenas um narigudo que o setor de inteligência odiava e Renato Gaúcho deve estar até fazendo os cursos da CBF que ele tanto questionava.

E eis que chega Paulo Sousa. Diante de um Flamengo já desiludido, que parecia quase já ter aceitado seu papel de moleque piranha dos clubes brasileiros, incapaz de sustentar uma relação de mais de uma temporada com o mesmo treinador, o português de gola alta, calças apertadas e enorme disposição para falar sobre tática em entrevistas, chegou também com a missão de criar um novo time rubro-negro, e é isso que ele está tentando fazer.

Seja o novo esquema tático, seja a renovação do elenco, Paulo Sousa é o primeiro técnico que chega não para reaproveitar o elenco de 2019, não para recuperar a magia de 2019, mas sim para tentar criar algo novo, diferente, que feche o ciclo que rendeu ao Flamengo dois brasileiros e uma Libertadores e comece uma nova fase, se possível com o mesmo nível de conquistas.

João Gomes, um dos termômetros do time, mostrou um pouco da hipotermia que o Flamengo viveu hoje. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

E esse processo, como vem ficando evidente, não vai ser fácil. Seja pela resistência interna – na partida de hoje William Arão e o treinador discutiram aos berros após uma bronca de Sousa – seja pela dificuldade natural de implementar uma nova forma de jogar em um time que vem tentando, nos últimos 3 anos, repetir a forma que já havia dado tão certo.

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A marcação por pressão na frente rende chances mas também rende buracos entre as linhas, o esquema com alas amplia poder ofensivo mas também nos presenteia com jogadores absolutamente perdidos em suas funções, o esquema com 3 zagueiros vem se mostrando bem complicado num elenco onde é mais fácil encontrar três zagueiros ao mesmo tempo no departamento médico do que em campo. 

Marinho cada vez mais mostrando que é o tipo de maluco que o rubro-negro gosta. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Contra o Palmeiras, possivelmente o time mais bem organizado do Brasil, ficaram evidentes as diversas limitações do time de Paulo Sousa, seja na lentidão para criar jogadas, seja na dificuldade para marcar movimentações óbvias da equipe adversária. Mas também ficaram visíveis diversas das virtudes, algumas já reais, outras potenciais, do Flamengo que vem nascendo, seja no domínio das ações durante boa parte do jogo, seja em todas as chances que foram perdidas no detalhe do toque a mais, no centímetro do jogador que não entendeu ainda pra onde correr.

A verdade é que talvez, com Paulo Sousa, o Flamengo possa talvez ter a sua melhor chance, desde 2020, de esquecer a sombra de Jorge Jesus e finalmente superar esse ex por quem nós ainda ouvimos sertanejo, choramos no boteco e nos vemos obrigados a cancelar Ubers (“não é nada pessoal, é que a corrida é pro Maracanã, você se chama Jorge, é pesado demais pra mim”). A questão é ver se diretoria, torcida e até mesmo elenco, vão dar a atenção e o tempo que esse homem parece precisar pra fazer a gente feliz. Ao que tudo indica, pode ser sim que valha a pena.

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