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Trintões estão dominando o futebol brasileiro


Com Augusto Zaupa

Até uma década atrás, ou menos, havia uma visão de que as carreiras dos jogadores de futebol profissional desciam ladeira quando eles chegavam na casa dos 30 anos. Isso, no entanto, foi ficando para trás, tanto que, hoje, vemos inúmeros trintões se destacando e sendo protagonistas em grandes clubes do Brasil.

Tenho muito prazer de ver estes trintões atuando por aqui. O Corinthians é um ótimo exemplo. Estes jogadores mais experientes cuidam bem da bola, principalmente o Renato Augusto. Nos seus 34 anos, ele é um dos melhores jogadores da posição que atuam no Brasil, e tem dado aula de como se joga como segundo ou terceiro homem do meio-campo.

Fico encantado ao ver o Renato atuando. Ele tem facilidade, habilidade e inteligência para dar ritmo ao jogo. Mesmo não sendo um velocista, um cara forte, ele consegue empregar agilidade e potência ao time do Corinthians. O Renato tem feito sucessivas boas apresentações, com golaços de chapa, de fora da área. Brinco ao dizer que parece que os gols dele são todos iguais, que ficamos assistindo sempre o mesmo replay.

Não sei quais são os objetivos de carreira dele, mas se eu estivesse ainda atuando e demonstrando a mesma qualidade que ele vem manifestando, com certeza teria como meta disputar mais uma Copa do Mundo. Mundial é tiro curto, apenas um mês. Com a experiência e talento dele, ainda o vejo com espaço na seleção brasileira, tem bagagem para ajudar o Tite, tanto dentro como fora de campo. Ele já comprovou isso na Rússia, em 2018, quando foi o melhor em campo em todos os jogos do Brasil nos quais atuou naquela ocasião.

Hulk comemora gol pelo Atlético-MG; equipe enfrenta o Democrata neste sábado pelo Mineiro - PEDRO SOUZA/ATLÉTICO-MG - PEDRO SOUZA/ATLÉTICO-MG

Hulk comemora gol pelo Atlético-MG

Imagem: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO-MG

Além do seu camisa 8, o Corinthians conta com outros oito atletas que já passaram dos 30 anos e seguem se destacando ou que ainda dão conta do recado: Paulinho (33), Cássio (34), Fagner (32), Fábio Santos (36), Gil (34), Giuliano (31), Willian (33), além do atacante Jô (34). Sendo que seis atletas desta lista atuam constantemente como titulares.

O Corinthians não é o único “agraciado” por estes trintões. Multicampeão na temporada passada, o Atlético-MG teve o atacante Hulk como grande destaque nas conquistas do Brasileirão e da Copa do Brasil de 2021. Aos 35 anos, o camisa 7 desbancou Gabigol ao ser o maior artilheiro do futebol brasileiro no ano passado ao anotar 36 gols —terminou o Nacional como goleador, com 19 gols em 35 jogos. O atacante flamenguista, 10 anos mais novo que o atleticano, havia alcançado este feito nas três temporadas anteriores.

O elenco do Galo ainda conta com o habilidoso meia argentino Nacho Fernández (32), o goleiro Everson (31), os experientes zagueiros Réver (37) e Diego Godín (36), o lateral Dodô (30), o chileno Eduardo Vargas (32) e do atacante Keno (32). Já o Flamengo tem à disposição Filipe Luís (36), Willian Arão (30), Diego Alves (36), Isla (33), David Luiz (34) e os polivalentes Diego Ribas (37) e Everton Ribeiro (32).

Ou seja, os principais clubes da Série A do Brasileirão têm em seus elencos trintões como destaque: Willian Bigode (35) e Felipe Melo (38) no Fluminense; Edenílson (32) e Taison (34) no Inter; Ricardo Goulart (30) no Santos; Reinaldo (32) e Miranda (37) no São Paulo; Dudu (30) e Weverton (34) e Marcos Rocha (33) no atual bicampeão da América, o Palmeiras. Eles são alguns poucos exemplos que ilustram esta fase.

Com o desenvolvimento da medicina esportiva, da tecnologia e até da mudança de mentalidade dos jogadores sobre como tratar a carreira, como se preservar, essa longevidade só tende a aumentar. Temos que valorizar mais estes profissionais experientes. Normalmente, julgamos que os jogadores que passam da casa dos 30 anos estão ficando obsoletos, velhos.

Na jornada da vida, estamos começando a entender melhor o mundo quando completamos três décadas. Atualmente como empresário, me sinto como um bebê nos meus 44 anos, visto que estou iniciando esta nova fase na minha trajetória.

Parei de jogar aos 37 anos, mas cheguei ao meu ápice quando estava na casa dos 30. Ganhei uma Copa Libertadores, uma Recopa, dois Gauchões (todos pelo Inter), dois Brasileiros e um Mineiro (ambos no Cruzeiro). Mesmo já rodado, como costumam e gostam de falar, tive a sorte e capacidade de estar em clubes que me proporcionaram a possibilidade de ser campeão. Foi quase um título por ano nesta minha fase de vida.

Debandada de jovens também ajuda

Seria leviano da minha parte se não mencionasse que a saída, cada vez mais prematura, de jovens talentos à Europa beneficia que os trintões tomem conta do futebol brasileiro. Quando o atleta está no ápice, entre os 20 e 27 anos, a tendência é que ele esteja atuando nas principais ligas do Velho Continente.

Jogadores que hoje se destacam no Brasil, como o caso do Hulk, tiveram longa e vitoriosa carreira na Europa antes de regressarem. O nosso futebol permite isso porque os jovens talentos estão nos poderosos Liverpool, Real Madrid, PSG, Barcelona, Manchester United e City, entre outros. Os que poderiam “atropelar” vão embora muito cedo e retornam mais calejado, com outra visão do jogo.

Quando ainda defendia o Cruzeiro, me recordo que brincava com o Dagoberto e com o Borges, os caras mais cascudos como eu, para não provocar, não entusiasmar a gurizada que estava subindo, mas que treinava na inhaca, sem vontade. Eu sabia que se a gurizada tivesse vontade e quisesse treinar com afinco, nós nem veríamos a cor da bola. Às vezes, os jogadores novos chegam ao profissional sem foco e isso permite que os mais velhos dominem as lacunas.

No Brasileirão 2022, que está prestes a começar, acredito que estes trintões seguirão dando o ritmo ao campeonato.

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