Notícias

Sempre por você: garoto do Flamengo oferece gols e título ao pai após tragédia em campo de futebol


Imagine perder seu maior incentivador, o responsável por seus primeiros passos em busca de um sonho, em tragédia ocorrida justamente no ambiente que pode transformar a vida da sua família: o campo de futebol. Quem teria estrutura para tocar na bola e ter contato com o gramado poucos dias depois de viver algo tão pesado? O adolescente Adriel Moraes teve de sobra. Não lhe faltou força mental para, com a camisa 7 do Flamengo às costas, honrar o nome do pai, Angelo Márcio Moraes, com gols e um título conquistado no estado onde nasceu.


+Flamengo antecipa férias do elenco e monitora pressão no Benfica à espera de brecha por Jorge Jesus

Tal turbilhão de acontecimentos e sentimentos deu-se em curtíssimo intervalo de tempo. No último dia 24, Angelo Márcio, que tinha 44 anos e era atleta de Futebol de Sete, passou mal após disputar uma partida em Pinhão, cidade onde o meia-atacante Adriel nasceu, no interior do Paraná. Angelo ainda foi encaminhado a um hospital da região, porém não resistiu. O mais duro é que o jovem, acompanhado da mãe (Ilda Maria), assistia pela internet ao jogo que o pai disputava.


+David Luiz absorve vaias ao Flamengo, mas faz cobrança para 2022: “Grupo precisa amadurecer”

– Com certeza foi o maior choque que já tive. Quando eu e minha mãe o vimos passando mal, ficamos muito preocupados porque ele tinha desmaiado, também jogando futebol, na semana anterior ao dia do falecimento. Dessa forma, já entramos em contato com nossos familiares da cidade de Pinhão para saber mais informações. Nisso meu pai já estava no hospital e posteriormente veio a notícia de que ele havia entrado em óbito – disse Adriel.

Adriel dedica título e gols pelo Flamengo ao pai, Angelo Márcio Moraes — Foto: Reprodução
1 de 6 Adriel dedica título e gols pelo Flamengo ao pai, Angelo Márcio Moraes — Foto: Reprodução

Adriel dedica título e gols pelo Flamengo ao pai, Angelo Márcio Moraes — Foto: Reprodução

Cinco dias após a pior dor que sentiu na vida, Adriel e sua impressionante força mental entraram em campo. O jovem voltava ao Paraná, palco de seu nascimento e da tragédia que vitimou o pai, para disputar a Caju’s Summer Cup 2021, torneio realizado no CT do Athletico Paranaense. De 29 de novembro a 3 de dezembro, o time sub-16 do Flamengo jogou cinco vezes (três vitórias, um empate e uma derrota) e foi campeão na última sexta-feira com vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo.

O mal súbito sofrido por Angelo ocorreu quando deixava o campo para abraçar Joair, uma das pessoas fundamentais no processo que colocou Adriel no caminho do futebol profissional. Exatamente duas semanas após a perda, o garoto do Ninho, que completou 16 anos na última segunda-feira, não escolhe outra pessoa para oferecer o troféu e os dois gols marcados na competição, ambos feitos na semifinal, contra o Aduriz-PR (5 a 0).

– Sem dúvida alguma dedico a uma das pessoas cruciais nesse meu processo em que me tornei jogador de futebol, meu pai, Angelo Márcio Moraes. Falaria para ele: “Vou continuar sempre forte e realizar o teu sonho compartilhado comigo, que era me ver jogando futebol profissionalmente. Saiba que vai ser sempre por você. Eu te amo, pai.”

Adriel afirma que tirou de si e do suporte familiar a força para entrar em campo na semana posterior à morte de Angelo. Ele, aliás, garante que os gols marcados na semifinal do torneio têm a mão do pai

(veja no vídeo acima)

.

– Com certeza pelo apoio da minha família, por minha vontade de vencer e de dar seguimento ao projeto que meu pai tanto se orgulhava de ver. No jogo da semifinal, lembrei do conselho que ele sempre me dava: “Corte para a esquerda”. Isso me marcou profundamente, marquei dois gols assim e consegui ajudar minha equipe” – afirmou o canhoto rubro-negro.

Prefeitura de Pinhão publicou nota de pesar pela morte de Angelo em seu site oficial e definiu luto — Foto: Prefeitura de Pinhão
2 de 6 Prefeitura de Pinhão publicou nota de pesar pela morte de Angelo em seu site oficial e definiu luto — Foto: Prefeitura de Pinhão

Prefeitura de Pinhão publicou nota de pesar pela morte de Angelo em seu site oficial e definiu luto — Foto: Prefeitura de Pinhão

Confira outros tópicos do papo com Adriel e com Maria Eduarda Wolf, psicóloga do Flamengo nas categorias sub-15, 16 e 17:


Adriel, seu pai disputava uma partida (válida por campeonato de futebol 7 promovido pela Secretaria de Esportes de Pinhão) quando passou mal. Ele atuou profissionalmente?

– Sempre participou do mundo futebolístico e era um craque, como todos falavam, mas nunca jogou futebol profissionalmente. Teve oportunidades de teste em alguns clubes, de maior expressão foi o Athletico-PR. Ele foi aprovado, mas minha vó não permitiu que ele ficasse por ter medo que se envolvesse com coisas erradas e também pela pouca idade. Mas, que jogador era meu pai, impressionante.

Prefeitura de Pinhão decretou luto pela morte de Angelo, atleta da equipe
3 de 6 Prefeitura de Pinhão decretou luto pela morte de Angelo, atleta da equipe “Compensados Thomé” do Futebol de Sete — Foto: Reprodução

Prefeitura de Pinhão decretou luto pela morte de Angelo, atleta da equipe “Compensados Thomé” do Futebol de Sete — Foto: Reprodução


Ele era seu maior incentivador. Como era a relação com o seu pai?

– Uma relação de fã a ídolo, de referência, espelho, exemplo. Além da figura paterna, éramos amigos. Meu pai sempre me ajudou em tudo que precisei, me aconselhando e dando direcionamentos a cada dia não apenas para ser um bom jogador, mas também para um ser humano melhor. Desde o meu princípio quando criança, o primeiro toque em uma bola de futebol foi ele quem me apresentou.

– Lembro que nosso quintal de casa servia de campo, onde ele me ensinava jogadas, dribles, fazia com que eu treinasse desde sempre para seguir o meu sonho e também o dele. Nossa relação era de puro amor e respeito. Grandiosa e incrível.


O que espera conquistar com o Flamengo para homenagear o seu Ângelo?

Adriel, o terceiro dos jogadores agachados da direita para a esquerda, foi campeão pelo Flamengo — Foto: José Tramontin/athletico.com.br
4 de 6 Adriel, o terceiro dos jogadores agachados da direita para a esquerda, foi campeão pelo Flamengo — Foto: José Tramontin/athletico.com.br

Adriel, o terceiro dos jogadores agachados da direita para a esquerda, foi campeão pelo Flamengo — Foto: José Tramontin/athletico.com.br

– Com o Flamengo, eu almejo alcançar todos os títulos possíveis. É o meu clube do coração e sempre será um prazer vestir o manto sagrado dentro das quatro linhas. Certamente, cada jogada, gol ou título serão para ele, Angelo Márcio Moraes, meu maior ídolo e incentivador.

Adriel, do Flamengo, exibe o troféu da Caju's Summer Cup — Foto: Arquivo Pessoal
5 de 6 Adriel, do Flamengo, exibe o troféu da Caju’s Summer Cup — Foto: Arquivo Pessoal

Adriel, do Flamengo, exibe o troféu da Caju’s Summer Cup — Foto: Arquivo Pessoal

Maria Eduarda Wolf destaca trabalho a longo prazo com Adriel

– Eu trabalho diretamente com o Adriel desde quando ele ainda estava nas categorias menores (jogador chegou ao clube em 2019). Durante esse período, de forma natural, paralelo ao trabalho houve a construção de um vínculo de lealdade e confiança. Isso reforça que é fundamental termos a oportunidade de realizar um trabalho a longo prazo com esses meninos, e mostra como esse processo, construído no dia a dia, é importante para o desenvolvimento de todas as competências e habilidades mentais ou emocionais em um atleta de alto rendimento.

– Quando acontece uma situação como essa do Adriel, que é algo que ninguém pode controlar, o principal trabalho do clube é o acolhimento e o apoio ao atleta e à sua família, que é realizado com total integração entre vários departamentos como, por exemplo, com o apoio do Departamento Sócio-Educacional do clube.


Ida de Adriel a Pinhão e ok para jogar torneio


Maria Eduarda Wolf:

– Nesses momentos, o principal é o acolhimento, o apoio, o suporte. É uma escuta muito mais sensível, é compreender o momento do atleta, entender se ele está de fato preparado para todo o contexto que envolve uma competição de alto nível. Desde o dia seguinte ao acontecido, mantive contatos diários com o atleta, que viajou para sua cidade, no Paraná, para ficar ao lado da família. Durante esse período, o Adriel demonstrou muita vontade de disputar a competição e uma força mental incrível. Por isso demos o ok para que ele se reintegrasse ao elenco, e ele pôde desempenhar muito bem e teve papel fundamental em mais essa conquista.


6 de 6

Link Original

E pra você que curte o mundo esportivo -- entre agora mesmo em Palpites GE e tenha sempre em mãos as melhores dicas de investimento no futebol brasileiro e internacional.