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Paulo Sousa aponta erros individuais, mas o coletivo do Flamengo segue com problemas


Paulo Sousa tem suas razões quando lamenta erros individuais do Flamengo na derrota para o Fortaleza. É possível falar em pelo menos duas falhas de Pablo ao tentar controlar passes em profundidade, no equívoco de Arão, do domínio ao passe, no lance do gol do Fortaleza, e também decisões ruins no campo de ataque. Aliás, era a estas que o treinador se referiu com uma ênfase até assustadora em sua entrevista coletiva. Mas o jogo, a primeira vitória dos cearenses no campeonato e a fraca atuação rubro-negra não passaram só pelos erros individuais dos jogadores do Flamengo.

O time andou mal em todos os momentos do jogo, o que tem relação com questões coletivas. Nelas, o Fortaleza foi melhor por mais tempo. E, aliás, o futebol não costuma permitir que se dissocie temas individuais e coletivas. Quando se contabiliza muitos erros pessoais, costuma ser recomendável examinar se o conjunto vai mal, se a forma como o time está colocado em campo não gera desconfortos.

Paulo Sousa, técnico do Flamengo, na partida contra o Fortaleza — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
1 de 1 Paulo Sousa, técnico do Flamengo, na partida contra o Fortaleza — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Paulo Sousa, técnico do Flamengo, na partida contra o Fortaleza — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Por exemplo, o erro de Arão é técnico, pode ser chamado de individual. Mas acontece num jogo em que o trio Ronald, Jussa e José Welison sufocava os meias do Flamengo. Willian Arão tem dificuldade em jogar de costas e, seguidamente, recebia a bola dos zagueiros nesta situação. Além disso, a formação com Andreas Pereira junto a Arão e João Gomes não supriu as necessidades do time com e sem bola. Na hora de atacar, havia pouquíssimos movimentos para furar a defesa do Fortaleza, Pedro voltou a render menos do que se espera e o time encomendou sua sorte a Everton Ribeiro.

A rigor, o Flamengo teve alguns minutos de boas aproximações, na parte final da primeira etapa. Começou o segundo tempo achando um pênalti que poderia virar o jogo, mas Pedro desperdiçou. A partir daí, tentou jogar no campo ofensivo, mas seguiu oferecendo contragolpes. E, a rigor, foi sem a bola que o time se mostrou mais desestruturado.

O Fortaleza constrói suas jogadas a partir de uma saída de bola com três homens. Mas o homem pela direita, que habitualmente é Tinga e neste domingo foi Landázuri, costuma ser ativo ao conduzir a bola. Quase como um lateral que atua na base das jogadas, mais contido, embora por vezes apareça no ataque. E naquele setor o time de Vojvoda ainda tem Yago Pikachu e o apoio de um dos meias ou atacantes.

Pois é justamente ali que o Flamengo passou a ter uma dificuldade de recomposição, problema que no início da temporada era mais notado do lado direito. E a questão se origina da característica de Bruno Henrique. E foi a partir dali que o Fortaleza, pela liberdade encontrada, cansou de encontrar bolas longas, mal defendidas pela linha de defesa do Flamengo.

Mesmo no segundo tempo, quando defendeu mais atrás e tentou escapar em contragolpes, a equipe de Vojvoda se estruturava a partir de uma saída pelo setor direito e uma inversão de bola para esquerda, buscando as costas de Matheuzinho. No fim do primeiro tempo, pouco antes de Everton Ribeiro tirar da cartola o gol de empate, o Fortaleza havia se instalado em campo ofensivo e trocado passes longamente. Na tentativa de cobrir o espaço à frente de Ayrton na esquerda, um dos volantes do Flamengo tentava fazer a compensação e o time ficava em inferioridade no centro do campo. E se via envolvido.

Com Thiago Maia e Vitinho, o Flamengo ao menos conseguiu jogar no campo de ataque na segunda etapa, mas teve pouca inspiração contra uma defesa sólida. Do outro lado, havia um time muito melhor resolvido. E após Vojvoda renovar o fôlego de um Fortaleza que vive no limite físico, a dificuldade rubro-negra para conter os atacantes adversários, em especial Moisés, foi brutal. É até possível que Paulo Sousa contabilize o erro de Filipe Luís, na origem do gol decisivo de Hércules, como outra questão individual. Mas o Flamengo passou o jogo vivendo no limite contra um Fortaleza que, outra vez, ameaçava sair de um jogo lamentando ter levado para casa menos pontos do que merecia. Mas, enfim, encontrou a primeira vitória.

O Flamengo ainda é um time que se espaça ao perder a bola que não joga com naturalidade quando tenta controlar o jogo a partir da posse, que não por vezes parece ter poucos movimentos coordenados nos últimos metros de campo. Há uma semana, celebrava a vitória num Fla-Flu em que não mereceu os três pontos. Jogos como o de hoje explicam por que vale a pena separar resultado e desempenho. Joga-se pelos resultados, que no fim das contas são o objetivo em qualquer esporte. Mas sem jogar bem, eles costumam não ser sustentáveis. Numa longa corrida de 38 rodadas, o desempenho costuma ser o caminho mais seguro.

Quanto a Paulo Sousa, ele parece ter jogado uma cartada arriscada demais em sua entrevista. Ao apontar para os jogadores, usou um recurso que só costuma manter ilesos treinadores com amplo domínio do ambiente, da arquibancada ou do vestiário. É óbvio que o elenco do Flamengo não jogará contra o treinador, mas sua entrevista parece contribuir pouco para alguém que ainda tenta construir uma relação, uma base sólida de trabalho. O Flamengo segue sua instável caminhada neste 2022.

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