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Os desafios de um técnico estrangeiro no futebol brasileiro


Recentemente a ESPN fez um levantamento sobre técnicos estrangeiros no futebol brasileiro nos últimos dez anos. Os números mostraram que as temporadas 2020 e 2021 bateram o recorde histórico, cada uma com 10 gringos dirigindo, em algum momento, uma equipe brazuca.

Certamente a contratação de treinadores de outros países já superou a fase da moda e passou a ser uma tendência. O próprio Flamengo, ao escolher um substituto para Renato Gaúcho, fez questão de procurar por um profissional lusitano e, ao fim e ao cabo,

fechou com Paulo Sousa

e sua comissão técnica.

Mas essa política de buscar cabeças estrangeiras está longe de ser garantia de sucesso. Há desafios no caminho de um comandante que vem de fora, muitas vezes menosprezados pelo clube e pelo profissional. E, mesmo se percebidos, ainda podem causar problemas.

O primeiro deles é, sem dúvida, o imediatismo nos times nacionais. Sempre que um técnico chega, a expectativa é que ele arrume a casa e comece a ter resultados em quatro ou cinco partidas. Se logo de saída houver tropeços, a paciência tende a se esgotar, e a lua-de-mel acaba cedo. Jesualdo Ferreira passou por isso no Santos e mandou o recado para Sá Pinto, antes desse assumir o Vasco. Não adiantou. Ambos foram demitidos após pouco tempo.

Um segundo fator é a cultura. O Brasil pode ser incrivelmente diferente de outros mercados, e a adaptação tende a ser difícil. Quem viu de perto o dia a dia de Domènec Torrent no Flamengo ficou com a impressão de que ele nunca entendeu exatamente onde estava ou qual era a sua importância no contexto do clube e do futebol brasileiro. Só isso explicaria suas

declarações desastrosas

, que acabaram por levar a sua demissão.

Portunhol boleiro

Muitos comentaristas enaltecem a capacidade de um treinador de se comunicar com seus jogadores e convencê-los a embarcar em um projeto. Mas quando ele mal fala português, certamente haverá alguma dificuldade.  Os inúmeros argentinos e uruguaios que andam por nossos campos enfrentam esse desafio diariamente e, ainda que alguns tenham a boa vontade de aprender o novo idioma, o mais provável é um portunhol de boleiro que pode ou não funcionar no vestiário. Nesse aspecto, ponto para os lusitanos, ainda que com sotaque.

E quase todos os técnicos estrangeiros já criticaram o calendário maluco do futebol brasileiro. Com competições regionais, nacionais e continentais, mescladas com as famigeradas datas FIFA, joga-se mais partidas no Brasil do que em qualquer lugar do mundo. E os últimos anos foram pródigos em exemplos de como o excesso de jogos – seja por

força maior

ou pelo calendário bisonho –

comprometem o desempenho dos jogadores

e a qualidade do espetáculo. Nessa situação, não há Guardiola ou Mourinho que dê jeito. Tampouco Sousa ou Jesus.

É claro que essa aberração não está sob o controle dos comandantes que, no máximo, podem botar a boca no trombone. Muitos vão ser acusados de estar achando desculpas, afinal alguém ganhou, mesmo com as dezenas de jogos disputados. Mas, sinceramente, venceu quem suportou melhor um problema que nem deveria existir. Isso é mais maratona, e menos futebol.

Trampolim da vitória

Se é certo que por aqui há pouca paciência com técnicos (de qualquer nacionalidade), também é verdade que alguns gringos usam o sucesso no Brasil como trampolim para outros mercados. Sampaoli não hesitou em abandonar o Atlético MG para ir treinar um time francês. Coudet largou o Internacional no meio do campeonato quando surgiu uma vaga em La Liga. Antes de contratar, convém pesquisar quais são os planos do treinador, para médio e longo prazo.

Ao final, é bom ver um país historicamente resistente à internacionalização se abrindo para novos mercados, com diferentes ideias e propostas. Esse intercâmbio certamente oxigena o esporte, na medida em que obriga todos a melhorar para acompanhar o sucesso de lusitanos, argentinos, uruguaios e afins. Talvez vejamos jovens técnicos brasileiros, cada vez mais, indo para o exterior à procura de cursos de formação e experiências em clubes estrangeiros.  E quem sabe, em alguns anos, talvez décadas, o Brasil se torne um exportador não apenas de pés, mas também de cabeças para o futebol mundial.

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