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O esperado Flamengo x Atlético-MG foi um espetáculo pobre demais


Durante alguns meses, o Brasil fantasiou sobre como seria o encontro entre dois dos três principais elencos do país, donos dos maiores investimentos recentes, concorrentes mais diretos pelo título da principal competição nacional. Ao final, os rubro-negros celebraram a vitória e os atleticanos lamentaram o resultado, embora a vantagem na tabela ofereça conforto. Ao público neutro, ao amante do jogo que criou expectativas pelo duelo mais esperado do campeonato, restou apenas desapontamento. Dois elencos ricos ofereceram um espetáculo lamentavelmente pobre. Foram noventa minutos de um gol construído em jogada bem trabalhada, duas finalizações na trave, uma sucessão de bolas longas aleatórias, posses de bola descontínuas, um deserto criativo, 41 faltas, antijogo…

Como sempre, será preciso ponderar alguns fatores. Os desfalques do Flamengo, o caráter decisivo atribuído à partida, o calendário desgastante… E parte do problema está exatamente aí. O futebol brasileiro sempre nos impõe tais ponderações, porque nunca se trabalha em condições ideais. Ocorre que, ao não oferecê-las, cria-se também uma muleta para justificar a pobreza de um clássico tão importante, o deserto de ideias. Difícil mesmo é contornar o fato de que o material humano que estava em campo era capaz de oferecer muito mais num contexto coletivo um pouco mais arejado. Um encontro entre Gabigol, Bruno Henrique, Éverton Ribeiro, Nacho Fernandez, Hulk, Diego Costa e Arana, entre outros, não pode resultar num jogo como o que se viu neste sábado.

Bruno Henrique e Nathan Silva disputam bola no jogo Flamengo x Atlético-MG — Foto: André Durão
1 de 1 Bruno Henrique e Nathan Silva disputam bola no jogo Flamengo x Atlético-MG — Foto: André Durão

Bruno Henrique e Nathan Silva disputam bola no jogo Flamengo x Atlético-MG — Foto: André Durão

Não é incomum, em qualquer parte do mundo, que jogos tidos como decisivos sejam amarrados, pautados pela medição de riscos. No Brasil, tem sido frequente. Mas no Maracanã, o Flamengo com sua falta de padrões, o Atlético-MG que foi esvaziando o meio-campo conforme o duelo transcorria, e ambos os times com enorme dificuldade de estabelecer mecanismos ofensivos eficientes, repetiram problemas que estão longe de serem inéditos neste Brasileirão. A verdade é que dois dos mais ricos times do Brasil se impõem a seus adversários bem menos do que sugere a força de seus recursos.

Cuca apostou em perseguições aos quatro homens mais ofensivos do Flamengo, por vezes com Allan compondo a linha defensiva como quinto homem. E o time rubro-negro, que mal conseguia chegar próximo de finalizar na primeira etapa, teve seu único momento de construção lúcida no lance do gol. Jogada que, aliás, foi das raras manobras dos 45 minutos iniciais. Quando Éverton Ribeiro arrastou Arana, seu perseguidor, para o centro do campo, os atleticanos apontavam o dedo uns para os outros tentando ajustar a ocupação do setor defensivo. Havia clara indecisão, enquanto Gabigol levava Allan para longe da área e Isla atacava o corredor lateral. Do cruzamento, surgiu o gol de Michael.

O Atlético tentou sobrecarregar a linha defensiva do Flamengo, com os laterais ocupando os corredores externos, enquanto Zaracho e Keno juntavam-se a Hulk pelo centro do ataque. Mas era gritante a dificuldade de fazer a bola chegar em condições de finalizar. Na primeira etapa, o time ainda conseguiu conclusões, quase sempre com aproximações entre jogadores para buscar toques curtos. Mas, ainda assim, resta uma sensação de um jogo muito dependente da intuição dos mais talentosos. Algo que, aliás, também é traço do Flamengo de Renato Gaúcho.

Este último, aliás, abraçou definitivamente a ideia de defender perto de sua área na segunda etapa e apostar no contragolpe. Imaginava-se um duelo de ideias distintas, porque a entrada de Diego Costa pretendia, de vez, colocar peso na área defendida pelos rubro-negros. Não aconteceu o contragolpe do Flamengo, tampouco a pressão atleticana. O time de Cuca tinha pouco a oferecer além de passes longos para Hulk fazer o pivô e tentar girar. Raras vezes levou vantagem, e aí é preciso elogiar o empenho defensivo do Flamengo e a boa atuação de Léo Pereira. Mas era assustadora a dificuldade criativa do líder do campeonato.

Como se não bastasse, mesmo com dois jogadores de porte físico na área, o Atlético-MG não conseguia se colocar sequer em posição de cruzar com alguma vantagem. A cabeçada de Arana na trave foi um destes momentos esparsos.

O Flamengo parecia querer o contragolpe sem saber ao certo como, abusava dos passes longos precipitados, tinha extrema dificuldade em reter a bola. O jogo não engrenava de forma alguma. Cuca tirou Nacho Fernández e terminou com Savarino, Vargas, Hulk e Diego Costa, perdendo o que lhe restava de criação, de articulação. No Flamengo, Renato Gaúcho só foi abrir mão de Éverton Ribeiro nos instantes finais, mas não eram poucas as tentativas de um jogo direto, uma disputa pela segunda bola. Esta, aliás, foi se tornando a tônica do clássico: o meio-campo como lugar de passagem, jamais de pensamento.

O Flamengo pode dizer que segue vivo no campeonato. A esta altura, pode se apegar mais à matemática e à esperança de ter gerado uma instabilidade no rival do que propriamente em seu rendimento. Ao menos, quando se leva em conta o nível de jogo nas últimas semanas. O Atlético-MG ainda tem as probabilidades a seu favor. Mas com força quase total, num confronto nobre por seu grande objetivo no ano, a exibição do Maracanã foi desapontadora. Houve momentos em que o contraste entre expectativa e realidade deste Flamengo x Atlético-MG foi algo próximo do deprimente. O futebol brasileiro precisa esperar mais de duelos como o deste domingo.

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