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O dilema Gabigol, um atacante em permanente busca pelo espaço


Foram 180 minutos em que Gabigol participou mais do que o habitual dos jogos do Flamengo, mas finalizou menos do que costuma fazer em sua passagem pelo clube. As partidas contra Goiás e Sporting Cristal terminaram por reacender uma discussão: qual a melhor forma de usar Gabigol? O atacante, que não está longe de ser um ponta, tampouco é um centroavante convencional, envolve algumas complexidades. Algumas delas refletidas na dificuldade que vários treinadores encontraram em fazer funcionar a dupla entre ele e Pedro.

Primeiro, é importante ter em mente que ver Gabigol girando pelo ataque, deixando a linha ofensiva e retrocedendo alguns metros, está longe de ser uma novidade. É quase uma necessidade para se tirar o melhor dele. Gabigol tem qualidade técnica para contribuir em outros momentos do jogo, tem a virtude da finalização, mas é especialmente forte ao identificar espaços para atacar a área. Então, é preciso combinar suas saídas da linha ofensiva com a criação de espaços para que ataque a defesa rival.

Gabriel Barbosa em Flamengo x Sporting Cristal  — Foto: Foto: André Durão
1 de 1 Gabriel Barbosa em Flamengo x Sporting Cristal — Foto: Foto: André Durão

Gabriel Barbosa em Flamengo x Sporting Cristal — Foto: Foto: André Durão

Os números ajudam na reflexão. E vale uma ressalva: aqui são usadas apenas estatísticas de Campeonato Brasileiro e Libertadores, para ter uma melhor comparação entre o nível de dificuldade da partida. Desde que chegou ao Flamengo, para jogar a temporada 2019, Gabigol teve, em média, entre 43,16 e 48,65 ações totais por jogo. Nos dois jogos em que Paulo Sousa escalou Pedro e, aparentemente, fez Gabigol girar por um espaço maior ainda de campo do que o habitual, o atacante teve 58 ações em cada jogo. E aí se incluem ações com bola e sem ela, ou seja, no momento defensivo. Ou seja, sua interferência no jogo aumentou.

O número de vezes em que tocou a bola na área não foi tão afetado pela mobilidade: foram 4,5 toques por jogo, menos do que em 2019 e 2020, quando teve 4,7, porém mais do que os 3,75 de 2021 e os 3,45 de média na temporada atual. A questão, no entanto, são as finalizações.

Em 2019, Gabigol arrematava 3,41 vezes por jogo, número que subiu na temporada 2021 para 3,54. Em 2021, caiu para 3,25, mas foi especialmente afetado neste 2022: eram 2,09 chutes por partida. Nos dois últimos jogos, o atacante teve registros ainda abaixo, com duas finalizações em cada partida. E aí é novamente importante o contexto. O Flamengo de 2022 não reduziu drasticamente seu número de arremates: é de 13,4 por jogo, enquanto nas três temporadas anteriores ficou entre 13,8 e 14,4. Ocorre que, contra o Sporting Cristal, a equipe teve 20 finalizações e apenas duas foram de Gabigol.

Fica claro que, embora tenha claras virtudes para resolver jogos graças à qualidade técnica, Gabigol também precisa de um funcionamento harmônico do ataque. É dificílimo, em futebol, dissociar individual e coletivo. E o Flamengo de 2022, pelo menos até aqui, não encontrou uma fluidez ofensiva que tenha colaborado com o centroavante. É possível argumentar que Gabigol desperdiçou chances em alguns jogos, no entanto, a qualidade das oportunidades que teve não é comparável à de outras temporadas.

Novamente, levando em conta Campeonato Brasileiro e Libertadores, Gabigol teve finalizações que, em 2019, resultaram numa média de 0,7 gols esperados por 90 minutos. Os gols esperados, o chamado Xg, é calculado de acordo com a probabilidade de gol de cada finalização, levando em conta fatores como a distância do chute, ângulo para o gol e proximidade do oponente. Em 2020, a média foi de 0,74, contra 0,65 em 2021. Nesta temporada, caiu a 0,36. No jogo contra o Sporting Cristal, foi de apenas 0,17. E aqui vale ressaltar: não significa que a qualidade da finalização seja pior, mas que o chute ocorre em condições menos favoráveis ao atacante, ou seja, num grau de dificuldade maior.

Um dos fatores que podem contribuir para estes números é que têm sido mais raras as oportunidades em que o atacante forma uma dupla com Bruno Henrique, certamente o companheiro que mais o entendeu no Flamengo. Bruno permite a Gabigol passes para sua finalização atacando a área, mas também faz movimentos saindo da área para oferecer ao camisa 9 o espaço.

Nas duas últimas partidas, em que Gabigol flutou mais pelo campo, havia o “fator Pedro”. Na teoria, é até difícil compreender por que os dois não podem funcionar juntos. Um atacante que gosta da área, outro que gosta da mobilidade. Na teoria, parece feito para funcionar. Mas não tem sido comum os movimentos de Pedro para abrir espaços. É como se, após sair da área para participar da construção, Gabigol encontrasse o espaço dentro dela preenchido nos momentos em que tenta infiltrar. E acaba finalizando menos.

Diante do Sporting Cristal, além de Pedro, houve o “fator Marinho”. O ex-santista prefere atuar pela direita e tem dificuldade de se deslocar para o centro, algo que Éverton Ribeiro faz com naturalidade. Assim, era como se mais um espaço de flutuação de Gabigol estivesse, por vezes, preenchido. Tanto que o atacante se moveu também pelo lado esquerdo, onde sua naturalidade é menor. E quando Marinho buscava se deslocar para a área – chegou a receber um passe que gerou uma ótima oportunidade de gol -, tampouco fazia movimentos para abrir espaços. Assim, no lugar de um atacante ocupando a área, Gabigol deparava com dois homens à sua frente. Participou do jogo como raras vezes, mas finalizou pouco.

Não há nada de errado quando Paulo Sousa tenta ampliar a influência de Gabigol nos jogos. Tampouco é impossível que ele funcione junto a Pedro ou com qualquer outro companheiro. A questão é encontrar movimentos que o beneficiem, que o tempo permita esta naturalidade na execução. É possível ver surgir um novo Gabigol, com ainda mais influência, sem que ele perca a proximidade com o gol. O tempo pode ser um aliado.

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