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Não é razoável transformar técnico em cientista louco em três jogos


Num ambiente racional, seríamos capazes de reconhecer que as primeiras rodadas dos Estaduais não são exatamente uma extensão da pré-temporada. São quase uma substituição delas, de tão escasso o período de preparação.

Se está mesmo disposto a manter seu calendário no século passado, com Estaduais inchados e obsoletos, o futebol brasileiro precisa ter maturidade para dar aos resultados de janeiro e fevereiro a relevância que eles têm: quase nenhuma. Mas o discurso de que os jogos que abrem a temporada servem apenas para preparar as equipes sobrevive apenas até o primeiro tropeço, ou à primeira experiência com uma escalação menos convencional.

Este 2022 promete recordes de demissões de técnicos. Em três semanas de bola rolando, já caíram cinco técnicos de Série A – ainda que seja justo ressalvar que a demissão de Enderson Moreira obedece ao contexto particular de um clube com novo dono.

Paulo Sousa  durante jogo do Flamengo — Foto: Gilvan Souza/Flamengo
1 de 1 Paulo Sousa durante jogo do Flamengo — Foto: Gilvan Souza/Flamengo

Paulo Sousa durante jogo do Flamengo — Foto: Gilvan Souza/Flamengo

Ocorre que não é mais possível usar as férias para defender o uso dos primeiros jogos do ano como laboratório e, após três partidas dos titulares, tratar como cientista louco o treinador que faz justamente o que, em sua cultura, é habitual numa pré-temporada, nos jogos preparatórios do verão europeu: experimentar. Se o Brasil deseja mesmo estar aberto a treinadores de diferentes origens, não faz sentido torcer o nariz para quem lança um olhar desprendido das amarras de uma cultura imediatista e resultadista.

Paulatinamente, na arquibancada, nas redes sociais e até na crônica esportiva, começa a ser construída a imagem de Paulo Sousa como a de um excêntrico, ou por vezes um idealista descompromissado com resultados. Ou, pior, como alguém perdido em meio a um jeito de fazer futebol que só nós dominamos.

A fúria cresceu após um jogo com o Audax em que o português teria cometido a audácia de ter apenas um zagueiro, “barrar” Everton Ribeiro e dar a Lázaro uma função de ala. Vale, então, examinar cada opção.

Primeiro, ao escalar Isla no trio de defensores que o Flamengo monta na saída de bola, Paulo Sousa não alterou em nada o desenho tático que vem utilizando. Com Leo Pereira ao centro, manteve Filipe Luís à esquerda e trocou um zagueiro de origem por Isla à direita. Pode tê-lo feito por dois motivos: melhorar a saída de bola contra um rival que, em teoria, atacaria pouco; ou cuidar das coberturas pelo lado direito, onde as costas de Matheuzinho têm ficado descobertas. Ou seja, tentou adaptar o Flamengo às circunstâncias. E observar o rendimento neste contexto. Mas não se inventou um sistema inédito, tirado da cartola.

Quanto à ala esquerda, Paulo Sousa fez o que anunciou nas entrevistas: ao descansar Éverton Ribeiro, deu sequência ao plano de equilibrar minutos dos jogadores e experimentar diferentes peças em diferentes funções. Vitinho estava suspenso, Bruno Henrique machucado e as outras opções já usadas no ano, Renê e Rodinei, talvez fizessem pouco sentido numa partida em que imaginava ver um rival fechado atrás. Deu minutos de jogo ao jovem Lázaro que, por sinal, foi bem. Por mais que tenha estudado o Flamengo antes de viajar ao Brasil, há dúvidas que o novo técnico só irá dissipar no dia a dia. É natural que, da observação por vídeos ou mesmo nos treinos, tenha restado a curiosidade de ver como alguns de seus comandados rendem em funções novas. Se não puder fazer isso num jogo com o Audax, pela fase inicial do Carioca, quando fará?

Nem tudo funcionou, óbvio. Esta foi mais uma partida em que o Flamengo se desordenou após as trocas, sinal de um sistema ainda em implantação. E se foi bem ao atacar no primeiro tempo, o time teve problemas na perda da bola, em especial pelo setor direito.

Mas as razões para a escalação ou o rendimento do time importam menos do que o ambiente criado em torno das escolhas de um treinador que, recém-chegado, tenta decifrar seu elenco. No dia 20, Paulo Sousa medirá forças com outra cara nova no futebol brasileiro, o argentino Antonio Mohamed. Em tese, deveria ser um festivo evento de abertura do ano entre duas potências do futebol nacional. O Brasil transformará o jogo em uma batalha de treinadores por créditos.

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