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Marcelo Carvalho: “Ofensa ao Gabigol e morte de Moïse estão interligados”


O Fla-Flu do último domingo (6) foi marcado pela

ofensa racial sofrida por Gabigol

. Um vídeo mostra ao menos um torcedor do Fluminense chamando o jogador de “macaco”, mas a repercussão do caso tem seguido um padrão perverso de responsabilização da vítima. Em conversa com o

UOL Esporte

, o diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no

Futebol

, Marcelo Carvalho, defende que a mera solidariedade dê espaço a ações práticas antirracistas.

“Todos os casos de racismo estão interligados. O xingamento ao

Gabigol

, a suspeita a uma pessoa negra dentro de um condomínio e

o espancamento do Moïse [Kabagambe]

, tudo está interligado. Se nós autorizarmos alguém a chamar outra pessoa de macaco, também estamos autorizando, lá na frente, que outro negro seja espancado e morto”, explica Carvalho, cujo trabalho no

Observatório

joga luz nos casos de racismo do futebol brasileiro.

Ele vê um padrão de comportamento nas discussões em torno de todos os casos de racismo que ganham repercussão no futebol. E esta ofensa a Gabigol não foge deste padrão.

“Primeiro vem a nota de repúdio: o clube acusado geralmente diz que vai ajudar como for possível, mas sem de fato se comprometer. Depois coloca-se a vítima sob dúvida, com obrigação de provar o que aconteceu. Este padrão de comportamento se repete porque o jogador dificilmente fala [quando sofre racismo] e, sempre que fala, o julgado é ele”, diz Carvalho.

O caso com Gabigol é ilustrativo deste arquétipo. A nota oficial do Fluminense pôs em dúvida o caso de racismo, repetindo o termo “supostamente” e apontando a apuração “da existência ou não” do crime. Depois o presidente Mário Bittencourt afirmou que o clube

“não tem comprovação de que a frase dita no meio daquele tumulto foi exatamente o que as pessoas acham que foi”

. Nas redes sociais, a posição do clube e de seu presidente dividiu espaço com outra discussão infrutífera e desnecessária: se Gabigol é ou não negro.

Este esvaziamento da pauta toma o lugar dos debates mais importantes que deveriam estar sendo travados a esta altura, defende Marcelo Carvalho. “O debate deveria ser: o que a Federação [Ferj] vai fazer para reduzir os casos de racismo no campeonato? Não podemos ficar voltando no tempo para discutir se foi ou não racismo. Isso interdita qualquer debate”, afirma.

“A gente sempre incentiva que a vítima registre ocorrência, denuncie, mas o fato é que a sociedade vai sempre julgar a vítima antes de julgar o agressor”, encerra Marcelo Carvalho.

Qualquer ofensa racial durante evento esportivo fere o artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Esportiva (CBJD), que prevê suspensões de vários tipos e multas de até R$ 100 mil aos autores da discriminação, a depender do caso.

Neste caso específico, a tendência é que o Fluminense seja punido de alguma forma

.

Confira outras respostas de Marcelo Carvalho:


Como o Fluminense deveria se posicionar?


“Deveria fazer era uma nota dizendo que vai punir o torcedor que for identificado, não colocar em dúvida se houve ou não ofensa. O próximo passo seria, por exemplo, o Fluminense criar um comitê de diversidade. Se o clube já tivesse, a nota oficial nunca sairia daquela forma. Será muito difícil avançar enquanto não tivermos comitês de diversidade dentro dos clubes e dos tribunais, porque a sociedade brasileira julga primeiro a vítima. Enquanto não houver negros neste espaço de decisão, ficaremos presos a estes comentários e discussões marginais.”


O combate ao racismo no futebol tem avançado?


“Vejo que há um avanço. Saiu do nada, do completo silêncio, e hoje já percebemos que o clube pelo menos tem que se posicionar de alguma forma. Ainda está longe do que esperamos, mas pelo menos há um posicionamento. E os outros clubes também se colocam: por exemplo, neste caso do Gabigol, o Vasco prestou solidariedade. O problema é que não passa da solidariedade. No caso Celsinho, todos os clubes se pronunciaram em apoio a ele e pediram justiça, mas quando a justiça não foi feita, nenhum clube se posicionou.”

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