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Libertadores, cobranças e futuro no Flamengo: Andreas se abre pela primeira vez após Montevidéu


A imagem em looping seja na mente ou um milhão de vezes na televisão levou a uma conclusão: a resposta está no que vem pela frente e não em buscar explicação para o erro decisivo na final da Libertadores, em Montevidéu.

Quase cinco meses após a derrota do Flamengo para o Palmeiras, Andreas Pereira, enfim, falou sobre uma cicatriz impossível de apagar, mas que deixou de ser uma ferida exposta. Pelo menos, para ele.

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Andreas Pereira em entrevista para o Globo Esporte — Foto: GloboEsporte
1 de 7 Andreas Pereira em entrevista para o Globo Esporte — Foto: GloboEsporte

Andreas Pereira em entrevista para o Globo Esporte — Foto: GloboEsporte

É impossível entrevistar Andreas e o lance que aconteceu aos 4 minutos do primeiro tempo da prorrogação da partida de 27 de novembro de 2021 não direcionar todos os questionamentos. O que aconteceu? Dava para fazer diferente? E o sentimento depois da derrota? Há sensação de culpa? Dá para continuar no Flamengo? Já reviu a jogada ou prefere esquecer? Perguntas que o brasileiro – e não belga, como gosta de frisar – respondeu em bate-papo de 20 minutos com o

Globo Esporte

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– Eu já vi um milhão de vezes. No momento, estava muito claro o que eu ia fazer e a bola acabou escapando. Já vi um milhão de vezes para ver o que aconteceu, o que poderia ter feito. Não só vi, tive vários sonhos.

Sempre lembro da ação e falo: “Por que eu fiz aquilo?”. Agora, eu tento olhar nos gols que eu fiz e focar nas coisas positivas.

Gol Deyverson Andreas Pereira Palmeiras Flamengo frame 12 — Foto: Reprodução Fox Sports
2 de 7 Gol Deyverson Andreas Pereira Palmeiras Flamengo frame 12 — Foto: Reprodução Fox Sports

Gol Deyverson Andreas Pereira Palmeiras Flamengo frame 12 — Foto: Reprodução Fox Sports

O Andreas que agora tenta responder perguntas que assolam milhões de rubro-negros invariavelmente chega a um questionamento frequente: “Por que aquilo foi acontecer justamente comigo?”. Nas graças da torcida fosse por ter quebrado o jejum de gols de faltas, fosse por substituir Gerson com adaptação imediata, o camisa 18 era a figura mais lúcida do Flamengo em campo – e ele mesmo sabe disso.

Passado tanto tempo, o jogador sabe que nenhuma explicação será suficiente nem para ele e nem para os torcedores, agradece o apoio que o tirou de praticamente um estado de choque nos primeiros dias e olha para frente:

Andreas Pereira em entrevista para o Globo Esporte — Foto: Globo Esporte
3 de 7 Andreas Pereira em entrevista para o Globo Esporte — Foto: Globo Esporte

Andreas Pereira em entrevista para o Globo Esporte — Foto: Globo Esporte

– Para mim, dentro de campo, a final foi um dos jogos que me senti melhor. Não estava acreditando que aquilo tinha acontecido comigo em uma bola que arrisco 100 vezes nos jogos e nunca tinha perdido. Justamente na final, no título que eu mais queria ganhar, vim para o Brasil para ganhar esse título, e teve que acontecer comigo. Não quero que aconteça com nenhum companheiro e fiquei muito triste, foi uma decepção, mas…como vou dizer? Foi um momento de tristeza. Foi difícil.

Na primeira semana, minha família me ajudou bastante, a minha mulher… Mas agora tento pensar em coisas positivas. Aquele lance não vai apagar o que eu fiz pelo Flamengo antes e o que eu posso fazer ainda. Sou maior do que somente um lance que aconteceu.

A tentativa de volta por cima em 2022 tem passado por um processo de entrada e saída do time de Paulo Sousa. A oscilação nas partidas faz com que o lance de Montevidéu automaticamente surja como justificativa para crítica e torcida, mas Andreas garante que a pressão pelo ocorrido ficou no passado. E faz questão de desvincular comparativos como em jogadas que resultaram em gols de Vasco e Atlético-GO nesta temporada.

– Se toda bola que alguém perder sair um gol… Não é assim que funciona. Para essas coisas, não fico preocupado. Sei que é mais fácil falar que o Andreas Pereira errou, todo mundo vai querer ler isso, vai dar mais clique e atenção, mas estou tranquilo. Sei na minha cabeça o que é o futebol.

Todo longo processo de compreensão do que aconteceu na tarde / noite de 27 de novembro no Uruguai tem condicionado também opiniões sobre a negociação por sua compra ao Manchester United. O Flamengo foi com Marcos Braz e Bruno Spindel até a Inglaterra no início de fevereiro, chegou a um acerto, apertou as mãos dos ingleses, mas ainda não colocou no papel a compra de 75% por 10 milhões de euros (R$ 50.8 mi na cotação atual).

Internamente, o tema vira e mexe entra na pauta em reuniões de diretoria. Seja pelo departamento financeiro, seja pelo de futebol, há idas e vindas na decisão de consolidar a negociação ou não. Dirigentes do futebol falam pelos corredores do Ninho que a pendenga permanecerá até próximo do fim do contrato de empréstimo, em junho.

Andreas reforçou que a prioridade é ficar e esquivou-se de avaliar a pergunta que norteia os debates: o investimento de 10 milhões de euros faz sentido?

– Estou fazendo o meu esforço, mas não posso opinar se é muito caro ou barato. Às vezes, o jogador quando é muito barato eles pensam: “Hum, alguma coisa não está certa”. Então, jogador caro é bom.

No longo bate-papo com o GE, o meio-campista detalhou tudo que sentiu e depois viu do lance com Deyverson, falou sobre as cobranças da torcida, como isso lhe impacta e chorou ao lembrar do abraço dos companheiros no vestiário do estádio Centenário. Depois de 138 dias, com a palavra Andreas Pereira.

Andreas Pereira em entrevista ao Globo Esporte — Foto: Cahê Mota / GE
4 de 7 Andreas Pereira em entrevista ao Globo Esporte — Foto: Cahê Mota / GE

Andreas Pereira em entrevista ao Globo Esporte — Foto: Cahê Mota / GE

– Não imaginava que fosse dessa forma. Estava vivendo uma boa fase, estava muito feliz e me senti amado por um clube da grandeza do Flamengo foi incrível. Da forma que acabou, na final da Libertadores, foi uma tristeza. Foi difícil entender o porquê depois de me sentir tão bem. Evito agora pensar nisso que já passou. Vou fazer meu melhor e sei que tenho capacidade para reverter essa situação e seguir em frente.


Conclusão do lance contra o Palmeiras

– Quando tem que acontecer, vai acontecer. Não tem jeito. Naquela bola ali, se eu não fizesse aquela ação ou se parar de jogar da forma que sei, vou parar de jogar bola. No campo, vou fazer de novo, errar de novo, tentar não errar, mas fazer o que é melhor.

No primeiro instante, quando a bola vem, eu vi que chegava uma pressão e domino para tocar para o outro lado. Mas vi que o Rodrigo Caio e o Isla estavam já pressionados. Ia recuar para o goleiro, mas perdi o balanço, cai para trás e me desequilibrei. Não tive chance nem de me jogar na bola, fazer a falta, e fiquei sem reação. O Deyverson veio com tudo. Normalmente, ele não pressiona. Foi uma bola que ele acreditou, mas eu tinha certeza que depois ia sair o gol. Estava confiante de que ainda íamos virar, estávamos bem no jogo. Foi uma sensação de tristeza mesmo.

Quando ele apitou e ficou a certeza de que o título foi embora, você realmente fica pensando o que poderia fazer melhor, o gol que poderia fazer, o que poderia ter feito de melhor.

– Foi incrível o jeito como eles me ajudaram, principalmente o David (Luiz), me consolando e falando também sobre a situação que aconteceu com ele (

Andreas faz referência ao 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014 e chora

)… Foi incrível mesmo o que eles fizeram por mim, o Renato (técnico) também. Todo mundo foi incrível. A torcida também, e foi aí que eu vi e falei que esse clube é diferente.

Andreas Pereira com a medalha do segundo lugar da Libertadores — Foto: André Mourão/Foto FC
5 de 7 Andreas Pereira com a medalha do segundo lugar da Libertadores — Foto: André Mourão/Foto FC

Andreas Pereira com a medalha do segundo lugar da Libertadores — Foto: André Mourão/Foto FC


Apoio no jogo contra o Ceará

– No jogo contra o Ceará (primeiro após a final), muitas pessoas me perguntaram se eu queria jogar, se eu estava bem. Eu não estava bem, mas não queria fugir da responsabilidade. Sei o que eu fiz, minha intenção nunca foi essa, todos perto de mim sabem o quanto eu sofri e falei: “Vou jogar, minha responsabilidade é dentro de campo e isso não vai mudar. Vou jogar”.

– A pressão sempre vai existir dentro e fora de campo. O futebol é um esporte às vezes cruel. Por uma bola em um jogo em que me sentia tão bem e com tanta certeza que iríamos vencer. Por uma bola que eu perdi, não conquistamos o título. É muito doloroso, sim.

– Tenho contrato até junho e sempre vou fazer o meu melhor para o Flamengo. Estou focado e positivo para o que vier. Só quero agradecer a torcida, os companheiros, e tudo que estão fazendo por mim e fizeram. Realmente, foi difícil, muito difícil depois da final, mas é algo que eu dentro de mim já superei. Já coloquei para trás e estou olhando para frente mais tranquilo. Tenho certeza que tenho qualidade suficiente para reverter essa situação.

– Quando eu entro em campo, não escuto nada. Sou eu mesmo. Falo muito com meu pai e amigos meus que no início foi difícil. Eu falava que não sabia se conseguiria virar a página e jogar tranquilo. Mas nos treinos eu já senti isso e na minha cabeça estou tranquilo. Pô, eu lembro do que aconteceu, claro, mas sobre pressão estou tranquilo. As pessoas podem falar, criticar, falar que estou sentindo o fardo, mas estou tranquilo e sei que tenho que continuar dessa forma para reverter.

Andreas Pereira em entrevista ao Globo Esporte — Foto: Cahê Mota / GE
6 de 7 Andreas Pereira em entrevista ao Globo Esporte — Foto: Cahê Mota / GE

Andreas Pereira em entrevista ao Globo Esporte — Foto: Cahê Mota / GE


Cobrança por novos erros

– Eu sou um jogador que tem que tomar certas decisões dentro de campo para o nosso time. Às vezes, um passe para o atacante fazer um gol e nunca vou deixar de tentar esse passe. Vou tentar o meu melhor e essa pressão só existe de fora. Eu não sinto. Todo mundo que conhece futebol e sabe analisar, vai ver que não foi por erro meu (gols contra Vasco e Atlético-GO). Futebol é um esporte coletivo. Se toda bola que alguém perder sair um gol… Não é assim que funciona. Para essas coisas, não fico preocupado. Sei que é mais fácil falar que o Andreas Pereira errou, todo mundo vai querer ler isso, vai dar mais clique e atenção, mas estou tranquilo. Sei na minha cabeça o que é o futebol.


10 milhões de euros é muito caro?

– Não fico prestando muita atenção nessas coisas, mas todo mundo sabe que eu priorizei o Flamengo. Todos no clube sabem disso. É difícil eu falar sobre meu próprio valor, mas um jogador do Manchester United por 10 milhões de euros… É para ficar mais barato? Estou fazendo o meu esforço, mas não posso opinar se é muito caro ou barato. Às vezes, o jogador quando é muito barato eles pensam: “Hum, alguma coisa não está certa”. Então, jogador caro é bom.


Indefinição para compra incomoda?

– Estou tranquilo e focado. Sei que tem essa indecisão. Tenho também que conversar sobre isso com as pessoas perto de mim e dentro de campo estou tranquilo. Sei que pode ser resolvido daqui a um mês, no final antes de ir embora… Mas estou tranquilo e pensando sempre no próximo jogo.


Frustração se for embora?

– Frustração não. Vim para o Flamengo para mostrar meu futebol e vou mostrar muita coisa ainda. Claro que fica a decepção de não ter ganhado os títulos, com certeza, mas sempre tentei mostrar o meu valor dentro de campo e a torcida reconheceu. Não é por um lance que isso vai por água abaixo.

– Sempre falei para meus amigos e para o Flamengo que sempre priorizei e que o Flamengo é muito importante para mim.

– Entendo o lado da torcida, a frustração. Não ganhamos o título carioca e eles sentem mais como algo para começarmos o Brasileiro talvez com mais vontade, para ficar mais ligado. Desde que não tenha violência ou agressão, entendo os torcedores pelas cobranças. Sabemos o que temos que fazer e com a força da Nação temos que trabalhar juntos. Se ficar cada um de um lado, vai ser difícil.

Foi a primeira vez que passei por isso. Já sabia que a torcida estava lá, fui encarar, abaixei a cabeça e passei. Vamos sentir na pele e buscar a vitória. Não tem jeito.

– Demorei a falar porque sempre coloquei na minha cabeça que vim para o Flamengo jogar bola e quero deixar tudo fora para ficar focado no futebol. Quero apenas treinar e jogar, por isso não tinha dado entrevistas. Quero só bola e vamos ver o que vem pela frente.

– Precisava do reconhecimento e do carinho do povo brasileiro. Minha família toda é brasileira, eu sou brasileiro, e estava perdendo essa conexão com o povo brasileiro. Por isso, tive a decisão de vir jogar no Flamengo.

– Tenho muitos amigos que sempre me falaram: “Vem jogar no Flamengo”. E mostravam como é o clube. Desde o primeiro momento, eu sabia e agora sei sentindo. É um orgulho fazer parte deste clube. O objetivo claro que era ganhar troféus e títulos com o clube. Infelizmente, o ano passado não foi como esperávamos. Faz parte do futebol. Agora, é colocar a mente em frente e alcançar os objetivos.

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