Disputada desde 1960, a
Copa Libertadores da América
vive momento peculiar,
ironizada até mesmo como uma “Copa do Brasil com argentinos”
. As duas potências do continente abrem amanhã (31) um novo confronto entre si. Será em
Buenos Aires, onde o Vélez Sarsfield recebe o Flamengo a partir das 21h30 (de Brasília), no estádio José Amalfitani
.
Contando apenas os confrontos diretos (mata-matas ou finalíssimas), esta será a 74ª vez que brasileiros e argentinos se enfrentam no principal torneio do continente (incluindo também os confrontos de pré-Libertadores).
Há um equilíbrio interessante no retrospecto geral. A vantagem é argentina, com 38 classificações nos 73 confrontos até aqui (52% do total).
Os brasileiros levaram a melhor nas outras 35 definições (ou 48%).
Considerando apenas
os mata-matas recentes, porém, a vantagem brasileira é enorme
.
Dos dez últimos cruzamentos entre brasileiros e argentinos, os brasileiros ganharam simplesmente nove, contra apenas e tão somente um triunfo dos argentinos.
Ou seja: considerando apenas o histórico, o Flamengo entraria em campo com uma chance de 90% de sair vitorioso contra o Vélez.
O domínio verde e amarelo começou na edição de 2020, quando o Palmeiras eliminou o River Plate na semifinal, com o Santos fazendo o mesmo com o
Boca Juniors
.
Em 2021, o Santos avançou na pré-Libertadores e deixou o San Lorenzo pelo caminho. Nas oitavas, o
Atlético-MG
passou pelo Boca, enquanto São Paulo e Flamengo eliminaram Racing e Defensa y Justicia, respectivamente.
Também no ano passado, o Atlético-MG varreu o River Plate nas quartas de final, levando a melhor pelo placar agregado de 4 a 0.
Na Libertadores de 2022, as oitavas de final contaram com dois mata-matas entre Brasil e Argentina.
O Corinthians superou o Boca Juniors em plena Bombonera, levando a melhor na cobrança por pênaltis depois de um 0 a 0 global
.
A vitória argentina na mesma fase foi bem mais folgada. O
Estudiantes impôs sua tradição ao Fortaleza e se classificou com um 4 a 1 geral (1 a 1 no Castelão e 3 a 0 em La Plata)
.
O último Brasil x Argentina foi o polêmico Athletico x Estudiantes das quartas de final. O
Athletico venceu em La Plata por 1 a 0, com o gol salvador saindo no último lance
. O Estudiantes
reclamou demais da arbitragem
.
O momento após o gol da classificação do Athletico-PR sobre o Estudiantes, pelas quartas de final da Libertadores
Imagem: Divulgação/Athletico-PR
As razões da disparidade
A Argentina vive um momento instável no
futebol
. A seleção curte a melhor fase em décadas. Os times do país, em compensação, veem o predomínio brasileiro nas competições continentais sem muito o que fazer.
Quem se debruçou sobre a fase argentina nos gramados foi o jornal ”
Clarín
“, o de maior circulação no país (e quem conhece a Argentina sabe que se trata de um dos país que mais leem em todo o mundo).
Em
longa análise publicada no mês passado
, o diário considerava praticamente um milagre que algum argentino nesta Libertadores tivesse condições de desbancar os brasileiros.
“Em defesa dos assombros, na Sul-Americana, aconteceu um milagre: o Táchira, da Venezuela, eliminou o famoso Santos, nas oitavas de final [da
Copa
Sul-Americana
]”, definiu o ”
Clarín
“, resumindo assim as eventuais chances da Argentina no confronto contra o Brasil.
“Como na Champions League, a matriz é econômica. Quase sempre, os que ganham ou chegam mais longe são os têm mais dinheiro e mais possibilidades de investir”, sustenta o jornal, que justifica assim o poderio brasileiro na Libertadores:
* Dos 20 jogadores com maior valor de mercado nesta Libertadores, 14 são brasileiros. Todos representavam times brasileiros que estão nas quartas de final. E a eles há que somar um uruguaio e um argentino que aparecem no top 20: Giorgian De Arrascaeta (do Flamengo) e Matías Zaracho (do Atlético-MG).
* Todos os jogadores do futebol argentino já estão fora, casos de Facundo Farías (do Colón), Enzo Fernández, Esequiel Barco e Nicolás de la Cruz (trio do River, mas Fernández já foi para o Benfica).
* Estendendo a lista até o top 40: 28 são brasileiros, e 31 do total disputam o Brasileirão.
* O que ocorre individualmente, por lógica, ocorre também com os clubes: 12 dos 14 mais valiosos são brasileiros. As duas exceções argentinas já estão fora: River (quarto, atrás de Palmeiras e Flamengo) e Boca (sétimo).
O ”
Clarín
” trouxe também em sua análise um parágrafo do escritor uruguaio Eduardo Galeano publicado em 2015 no “O Estado de S.Paulo”:
“Rogo a Deus para que os jogadores não percam esse prazer de jogar futebol, porque nos últimos anos se condicionaram a apenas ganhar, o que se traduz em mais dinheiro. O futebol perdeu essa faísca de assombro que deve marcar cada jogo. E ele agora corre o risco de ser um negócio rentável como as drogas ou as armas”.
O jornal arremata:
“Tão certo, tão doloroso. Quase como mostra agora, talvez exagerando, a série alemã ‘Cães de Berlim’, no Netflix”.
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