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Guiado pelo amor de vó: Torcedor do Flamengo relembra desafios do trajeto rumo à Lima


Enquanto essa matéria era escrita, o engenheiro eletricista Guilherme Meleiro, de 29 anos, estava na estrada rumo à Montevidéu, no Uruguai. Carioca da zona norte, ele repete agora o que fez em 2019, quando desbravou alguns territórios sul-americanos para acompanhar de perto o Flamengo na final da Libertadores.


Guilherme rumo à Montevidéu | Foto: Arquivo Pessoal

Na mala, a presença de um item especial se repete, assim como há dois anos. Vermelha, com os detalhes na cor branca e uma estrela amarela brilhante, está a camisa da flamenguista dona Sônia, avó dele. Ela faleceu em 2018 e não viu o clube do coração chegar às duas finais, mas o neto faz questão de levar com ele todo o amor dela pelo Rubro-negro.

2019: Ida à Lima

O trajeto de Guilherme até o Estádio Monumental, em Lima, no Peru, foi uma aventura repleta, literalmente, por percalços no caminho. Ao todo, foram cerca de quatro dias na estrada, junto a ele, dezenas de flamenguistas, unidos com o único propósito de ver o clube do coração conquistar a América.

Muita gente começou a me seguir na época, no Instagram, pessoal falando ‘cara, compartilha como tá sendo a viagem, a gente precisa saber, a gente quer viver isso’. Aquilo me deu uma alegria de poder compartilhar o que é ser flamenguista.”

Em determinado trecho da viagem, coincidiu deles passarem pelo território chileno no mesmo dia em que acontecia a Greve geral no país. Manifestantes com pedras, pedaços de madeiras, coquetel molotov e pneus organizaram um bloqueio para protestar por melhores condições de trabalho.

Se os rubro-negros não passassem por ali, não seria possível ver o Flamengo. Foi necessário arriscar a própria vida para negociar a passagem pessoalmente com os líderes do manifesto. Guilherme foi o escolhido. Hoje, sabemos que “valeu à pena” pois no fim da história o Flamengo foi campeão — mas lá, Guilherme ainda não sabia disso.


Trajeto do Guilherme até Lima, de ônibus | Foto: Reprodução/Instagram

Eu olhei a mão de uma moça e tinha uma garrafa de cerveja. Eu estava cheio de sede no deserto, perguntei se era cerveja. Aí ela ‘não, é molotov'”, conta ele dando risadas.

Ao todo, foram cerca de três barricadas e, em cada uma delas, Guilherme foi conversando com os manifestantes na tentativa de que eles liberassem a passagem. Motivado pelo amor que sente pelo clube e, com a dona Sônia no coração, lá foi ele descer do ônibus e pedir liberação ao líder do grupo. Passaram por uma… Raça. Conseguiram passar também pela segunda… Amor. A terceira foi a mais difícil, e eles tiveram até que dançar junto aos chilenos para serem liberados… Paixão.


Crédito: Reprodução

Quando eu cheguei a essa próxima (barricada), era uma situação até mais impactante que a anterior, só que como eu tava tão motivado pra chegar em Lima, eu não tinha medo.”

Guiado pelo amor

Hoje, com sorriso no rosto, ela relembra também dos bons momentos da viagem. “A gente batia maior papo, cantava música, brincava.” Guiado por um amor que surgiu quando era criança, ele não esquece quem foi a pessoa que o apresentou a essa paixão:

Minha avó era muito flamenguista, ela que me levou a primeira vez para o estádio, no antigo Maracanã.”

Como alguém que um dia já foi levado, hoje, é a vez dele levá-la mais uma vez com ele. “Quando ela faleceu, meu avô me deu a camisa dela. Só que eu só fui usar a primeira vez naquele jogo no Maracanã, contra o Emelec. E eu falei assim: ‘é hoje que a força sobrenatural vai exercer aqui sobre o Mengão’”, explica Guilherme. Naquele jogo, o Flamengo venceu nos pênaltis por 4 a 2 e se classificou às quartas de final.


Guilherme com a avó Sônia | Foto: Arquivo Pessoal

Dona Sônia sobreviveu a seis derrames ao longo da vida, mas com o tempo começou a ficar muito mal, inclusive tendo alguns delírios. Apesar dessa situação delicada, o neto conta que ela nunca deixou de assistir aos jogos de Flamengo, e ele inclusive ia para casa dela para que pudessem torcer juntos.

Às vezes a gente não valoriza tanto as pessoas, sabe? Graças a Deus eu valorizei bastante ela. Eu acho bizarro que, mesmo debilitada, mesmo mal, ela corria atrás pra poder estar com a gente. Era feliz pra caramba, falava do Flamengo, ficava toda animada”, conta ele com lágrimas nos olhos.

Dois anos depois, mais uma vez Guilherme e dona Sônia vão juntos desbravar o continente para acompanhar o Flamengo de perto. Mais uma vez, a camisa de dona Sônia está com ele.  Agora, resta aguardar para saber se, mais uma vez, essa dupla vai voltar campeã.

Tô deixando ela bem guardadinha, limpinha, para usar em Montevidéu”, revelou Guilherme enquanto mostrava, com orgulho, a camisa da avó.


Dona Sônia, avó do Guilherme | Foto: Arquivo Pessoal

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