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Flamengo vai à final com ajustes a fazer em seu funcionamento


De uns tempos para cá, tem sido necessário um certo cuidado ao analisar os clássicos cariocas que envolvem o Flamengo. Porque o descolamento de realidade econômica do rubro-negro em relação aos rivais locais provocou uma espécie de dificuldade de saciedade. É como se cada jogo precisasse traduzir tal diferença e uma simples vitória não fosse suficiente. Os 180 minutos da semifinal com o Vasco repetem o fenômeno, mas é inegável que chega à final carioca um Flamengo que tem óbvias virtudes, mas também claros pontos a ajustar em seu funcionamento.

Já o Vasco passa a se preparar para a Série B também com questões importantes. Desta vez, não se colocou todo atrás para evitar que os rubro-negros fizessem valer a maior qualidade técnica. Por 30 minutos, fez o jogo ter uma cara que lhe interessava mais: muito ritmo e pouco controle, jogo de idas e voltas e alguns movimentos interessantes. Por vezes assumia o risco de defender em igualdade numérica contra Arrascaeta, Gabigol e Pedro, pressionava na frente e explorava bem a dificuldade do Flamengo de recompor pela direita.

Flamengo x Vasco, gol de Arão — Foto: André Durão
1 de 1 Flamengo x Vasco, gol de Arão — Foto: André Durão

Flamengo x Vasco, gol de Arão — Foto: André Durão

O time de Zé Ricardo teve duas chances importantes no primeiro tempo, deixou melhores sensações em sua despedida do Estadual. Mas o balanço da primeira etapa da temporada ainda é de um time com dificuldades para criar quando precisa se colocar no campo rival e que, em diversos jogos contra adversários de pouco nível, permitiu chances demais. E, neste domingo, pareceu pagar, primeiro, o preço físico do esforço inicial: o fim do primeiro tempo já tinha um Flamengo mais confortável no campo ofensivo. Depois, o preço emocional do gol de Willian Arão. Ali, o time desmoronou.

Que o Flamengo era superior, pouca dúvida havia. Que se classificaria, menos ainda, dada a vantagem que trazia para o Maracanã. Mas chamou atenção a dificuldade de impor alguma rédea ao jogo enquanto o Vasco forçou o ritmo nos 30 primeiros minutos. Ainda que não fosse o plano do Flamengo reter a bola e se instalar no campo adversário, ainda que quisesse explorar espaços às costas de um Vasco necessitado de gols, fazia pouco sentido um jogo de tantas idas e vindas para este rubro-negro que, além de superior tecnicamente, não parecia confortável com o cenário. Como errava com bola e a perdia sem se preparar para defender, o time se desestruturava sem ela. As fases do jogo são indissociáveis. Hugo, inseguro em diversos momentos, teve que trabalhar. O Flamengo não conseguia dar pausa no jogo. O cenário parecia de descontrole.

Há outro ponto de atenção recorrente neste Flamengo: a marcação pelo lado direito. Neste domingo, Pedro foi o centroavante, com Arrascaeta e Gabigol por trás dele. Cabia a este último jogar mais pela direita e, por consequência, recompor quando o Vasco atacava. Mas ora Gabigol participava da pressão à saída de bola vascaína, e o Flamengo permitia que Edimar recebesse sem marcação; ora Gabigol tentava acompanhar o lateral, mas parecia longe de fazê-lo com a devida concentração. Não é questão de disposição, mas de característica. Talvez por isso, Paulo Sousa tenha invertido os lados de Willian Arão e João Gomes, fazendo o segundo jogar mais à direita. Por vezes, Gomes cobria o lado direito, mas descompensava a marcação pelo centro, à frente da área. Nenê buscava a bola e encontrava espaços sem pressão para tentar o passe, enquanto o Flamengo abria espaços entre suas linhas defensivas.

Num sistema que tenta abrir seus alas e acumular meias e atacantes pelo centro, há jogos como o de ontem em que as combinações por dentro ainda não acontecem com naturalidade, como se os movimentos de apoio para atrair defensores e os de profundidade para atacar espaços ainda não acontecessem de forma natural. Ou seja, o funcionamento do time ainda não é o ideal.

Mas era natural que o Flamengo se impusesse. O custo do Vasco para manter a semifinal viva começou a ser pago ainda antes do intervalo. O Flamengo teve mais a bola, conseguiu se estabelecer no campo ofensivo e, no início do segundo tempo fez o gol após um escanteio. Era mais resultado do volume do que de uma criação de tantas oportunidades. Mas o time já era nitidamente superior. Com o tempo, com um Vasco batido e o Flamengo tendo espaço, a partida se desequilibrou de vez. Paulo Sousa fez trocas, a mais chamativa delas a entrada de Vitinho. Novamente foi bem, em especial quando recebia a bola alguns metros para dentro. Parece merecer mais minutos como um dos “pontas” por trás do centroavante, jogando mais perto do centro do ataque. E quando os reservas são chamados, as diferenças entre Vasco e Flamengo se tornam mais nítidas.

Ainda com poucos recursos, o Vasco tem pouco tempo para tentar crescer antes da Série B. O Flamengo terá 10 dias até a decisão, tempo que pode ajudar Paulo Sousa a evoluir em suas ideias. Apontar questões sobre o funcionamento da equipe não significa condenar o trabalho. O Flamengo é forte, capaz de fazer frente a suas ambições na temporada. Mas tem clara margem e necessidade de evolução.

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