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Do estrelato aos raríssimos amigos: Osmar Santos volta às origens para ser homenageado como lenda do rádio brasileiro


Osmar Santos está há quase 30 anos sem narrar futebol por culpa de um acidente em 1994, mas na terra natal ele continua famoso, adorado e motivando muita gente

Há 27 anos o locutor e executivo de comunicação Osmar Santos estava no auge. Era o tipo de celebridade que não podia andar nas ruas do Brasil. Quando saia para jantar não colocava a mão no bolso porque os empresários viam na presença dele mais do que uma prova de prestígio. Era propaganda.

À época, casado, pai de dois filhos e

cercado de milhares de fãs

, Osmar estava rico. Tinha concessionárias de automóveis, era proprietário de produtora, investia alto em gado e tinha “muitos amigos”, mas isso praticamente acabou depois de um grave acidente naquele mesmo ano de 1994.

Era uma noite chuvosa. Osmar decidiu sair de Marília, cidade no interior de São Paulo, onde passaria o Natal com a família, para participar de uma festa dos funcionários de uma concessionária de carros, da qual ele era dono, em Birigui.

No meio do caminho, lá pelas 22h, um carro que vinha na pista contrária da BR-153 tentava avisar, piscando os faróis, que havia um perigo à frente.

Na estrada, um motorista embriagado percebeu que estava na direção errada, e resolveu manobrar o pesado caminho no meio da rodovia.


Osmar deu azar de acertar o canto esquerdo da Mercedes-Benz que dirigia em um dos ganchos da carroceria do caminhão

. O último gancho acertou o lado esquerdo do crânio do locutor, que perdeu o controle da direção e foi parar no meio do mato.

O acidente gravíssimo tirou 15 cm de massa encefálica do narrador do Grupo Globo de Comunicação, e

resultou na perda de parte dos movimentos e da principal ferramenta de trabalho, a voz

.

Com o acidente, Osmar também perdeu muitas coisas materiais, além do casamento e dos “amigos”, pelo menos daqueles que o rodeavam enquanto ele brilhava nas ondas do rádio e também nas telinhas da televisão.

O Pai da Matéria só não perdeu o apoio da família, como os irmãos Oscar Ulisses, Odinei Édson e Osório, além da mãe Clarice, hoje com 96 anos.


O ex-locutor também não perdeu o amor e a alegria por estar vivo e, por incrível que pareça, em plena atividade.

Mesmo depois de perder o movimento do braço direito, Osmar se reinventou. Foi estudar artes plásticas. Todos os dias pela manhã pinta pelo menos um quadro que, além de ajudá-lo financeiramente, é a terapia que o faz cada vez mais sentir-se forte e útil.

Osmar Santos não é um coitadinho. Pelo contrário, faz questão de fazer praticamente tudo sozinho, como tomar banho, as necessidades fisiológicas, a própria alimentação, se vestir, enfim. Ele se vira de uma forma impressionante.

Hoje, aos 72 anos, ele mora sozinho num apartamento no bairro do Higienópolis, área nobre da capital paulista. Com ele trabalham Toninha, uma espécie de secretária, cozinheira, faxineira e assistente, e o motorista Chico.

Osmar tem uma energia impressionante. Vai ao shopping, ao clube Pinheiros e aos restaurantes dos quais gosta quase todas as tardes.

O prazer dele é andar pelas ruas de São Paulo e ser reconhecido pelos fãs, principalmente os mais antigos, já que não narra há quase 30 anos.

De volta às raízes

Por causa da pandemia do novo coronavírus, Osmar deixou de viajar para Marília, onde vive a mãe Clarice, desde o ano passado.

Deixou também de visitar a cidade natal, Osvaldo Cruz, no interior de São Paulo, onde nasceram os irmãos locutores Oscar e Odinei, além de Osório, o único que não seguiu a carreira do irmão mais velho como radialista.

Osvaldo Cruz também é a terra de Ulisses Costa, narrador do grupo Bandeirantes e primo de Osmar, e as mágicas irmãs do basquete, Magic Paula e Branca.

Viajamos com ele para a cidade com pouco mais de 33 mil habitantes no final de novembro. Por lá encontramos dois raros amigos que nunca o abandonaram.

Luiz Mazzoli, o Nenê, 76, é pecuarista. Pedro Panvéchio, também 76, é radialista e viu o fenômeno Osmar Santos nascer ali na cidade, narrando tanto na Rádio Clube como no estádio Breno Ribeiro do Val.

Pedro vive até hoje como comunicador ao lado dos filhos Giuliano e Alessandro. É um locutor de voz marcante, de muito talento e que teve vários convites, inclusive de Osmar, para trabalhar na capital, mas preferiu construir a vida em Osvaldo Cruz.

Passamos uma manhã de sábado com o trio de amigos, que saíram pela cidade para matar a saudade de uma cidade que já não é lembra mais aquela dos dourados anos 1960.

“O Osmar saiu daqui muito cedo. Ficou na Rádio Clube de 1964 a 1967. Foi voar em Marília e logo depois em São Paulo, mas ele nunca esqueceu da gente. Pra você ter uma ideia, nos tempos de rádio Globo, ele sempre mandava um recado pra mim, pro Pedro, pro Burine e pra todos os amigos de infância”, disse Nenê.

O passeio por Osvaldo Cruz ainda teve visitas pelo sítio onde Osmar nasceu e que já não existe mais porque os sítios as pequenas chácaras vêm redesenhando a região. E nossa visita terminou em um restaurante que já não serve mais iguarias como bago e língua de boi, pratos que Osmar sempre apreciou. No restaurante, mais uma vez, muitos fãs pediram para tirar foto com um o mais famoso nome daquela pequena e pacata cidade.

Na despedida, depois de um almoço caipira e super saboroso, um abraço fraterno dos amigos Nenê e Pedro e uma certeza: Se Osmar Santos estivesse narrando até hoje, a rádio Globo não teria acabado e certamente outros grandes narradores nasceriam, tanto para o rádio quanto para a televisão; todos inspirados no homem que revolucionou o jeito de transmitir futebol no Brasil.

“O Osmar criou uma revolução, modernizou as transmissões esportivas. Por quê? Porque vínhamos de uma era onde brilhavam Pedro Luiz, excepcional narrador, mas do jeito mais simples. Depois teve a era Fiori Gigliotti, aquelas narrações mais românticas. Era uma poesia dentro do rádio. Aí vem o Osmar Santos com muitas vinhetas, como ‘tiroliloli tirolilolá’, aquela criatividade incrível que encaixou bem no meu estilo de ouvinte. Então, quando eu ganhei a oportunidade de trabalhar como locutor eu falei: ‘Poxa, é aí que eu quero me espelhar’”, confessou o recém aposentado locutor Antônio Edson.

Homenagem em vida

No domingo, último dia da viagem, foi reservado uma homenagem aos grandes locutores do interior de São Paulo.

Osmar Santos, claro, era um deles.

A reunião aconteceu num hotel fazenda situado na cidade de Varpa, colada em Tupã, também no interior de São Paulo.

Foi o quarto encontro dos radialistas do interior. Uma oportunidade para Osmar reencontrar as raízes do rádio.

Por lá estavam radialistas que já estão aposentados e que tiveram no garotinho Osmar a inspiração e as portas abertas pra brilhar em uma cidade grande.

No meio deles, estavam Antônio Édson e Sérgio Cunha, que foram descobertos pelo Pai da Matéria e fizeram parte da equipe dele.

Antônio Édson trabalhou na rádio Globo nos anos 80, Mais que isso, transmitiu nove Copas do Mundo e também fez história na rádio Bandeirantes.

Hoje, aos 72 anos, resolveu se aposentar e viver a vida tranquila de um cara que perdeu praticamente todos os finais de semana trabalhando.

“Eu tinha apenas dois anos de narração quando recebi o convite do Osmar Santos para fazer parte da equipe dele. Foi surpreendente a ligação dele dizendo que me queria no mesmo time dele da rádio Globo”, disse o locutor aposentado.

Sérgio Cunha também é uma lenda da comunicação. Formado em educação física, abandonou a profissão de professor para tornar-se comentarista da TV Record no saudoso “Desafio ao Galo” e depois locutor, apresentador e executivo do Grupo Bandeirantes de Rádio.

Hoje aos 80 anos, Sérgio relembra a importância de Osmar para a radiofonia brasileira. Assim como demais participantes do evento, ele se apresentou muito emocionado com o encontro que, não tem a pretensão de debater os rumos do rádio, mas sim de reunir os colegas de profissão .

“Aqui não é saudosismo, aqui é a alegria de reencontrar quase que a nossa origem”, definiu Sérgio Cunha.

Na mesma homenagem conhecemos histórias fascinantes de profissionais do rádio, como a do atual prefeito de Presidente Prudente, Ed Thomas, que iniciou a carreira radiofônica como faxineiro.

Encontramos, ao lado de Osmar Santos, profissionais que brilham na mídia do interior, como o locutor e apresentador Carlos Hernandes, um dos caras que passaram boa parte da vida narrando jogos e tentando imitar o estilo de Osmar.

Aliás, foi o próprio Carlos Hernandes que deu a primeira oportunidade para um velho conhecido dos canais esportivos da Disney, Cledi Oliveira, narrar o primeiro jogo de sua vida.

“O Cledi passou por Bastos, e eu por Adamantina. Numa dessas, ele querendo narrar, e eu precisava de alguém pra narrar no meu lugar, pois tinha sido contratado por outra emissora”, disse Carlos Hernandes.

Foram dois dias de muita saudade e aprendizado com os muitos fãs, mas com os raríssimos amigos de Osmar.

Raros como os amigos de São Paulo. Afinal, Osmar não é mais tão famoso, não está mais na mídia, não é mais um milionário nos restaurantes mais chiques da grande metrópole. Retrato de uma vida como ela é.

Se você tem bens, se você é famoso, se você é jovem, está na moda, no circuito da moda, enfim, aí sim você tem valor e amigos.

Para o velho Osmar, além dos raríssimos amigos, existe por perto irmãos de sangue e o filho Victor Santos, um jornalista que, ao contrário de muita gente, decidiu se afastar de um Osmar que ficou apenas nos arquivos, mas que poucos sabem o tamanho de sua obra, não só as mais impressionantes do rádio, não só nas suas pinturas que mais parecem feitas por uma entidade. Na verdade, a palavra é essa: Osmar Santos é uma entidade, vivíssima e cheia de lições pra passar para aqueles que realmente querem aprender algo mais importante nessa vida, cheia de ilusões.

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