Corinthians
x
Flamengo
é clássico? Para os argentinos, sim. Tanto que a partida de hoje é destacada nas rádios e TVs de Buenos Aires como “o clássico popular do Brasil”, pelas duas maiores torcidas, lembrando que, na Argentina, os dois clubes semelhantes já foram eliminados.
Traçar um paralelo entre o Corinthians x Flamengo com
Boca Juniors
x River Plate é interessante, pois repassa os traços culturais, esportivos e financeiros que marcam a história e a atualidade de Brasil e Argentina na Libertadores da América.
River x Boca acumula lances tensos e confusões
Imagem: Divulgação AFA
Inimigos íntimos
O primeiro a ser levado em consideração pelos argentinos é a insana rivalidade local, algo que Corinthians e Flamengo, de estados diferentes, não nutrem entre si.
Boca e River, afinal, são mais que “inimigos íntimos” da mesma cidade. Ambos foram fundados no mesmo bairro — em La Boca —, mas o River migrou para outra região de Buenos Aires logo na década seguinte.
A distância da Bombonera para o Monumental de Núñez, por exemplo, é de meros 10 quilômetros, algo impensável na dinâmica entre Corinthians e Flamengo.
Local do jogo de hoje, a Arena Neo Química, por exemplo, está a 431 quilômetros do Maracanã, palco do confronto de volta. Até a distância para os outros estádios de São Paulo é superior a esta entre os gigantes portenhos.
A casa corintiana está a 25 quilômetros do Allianz Parque. E a 34 do Morumbi.
Para quem mora no Rio, a “escala” é mais fácil de compreender, pois a distância do Maracanã para o Estádio Nilton Santos é de 8 quilômetros.
Para a Argentina, este território entre Itaquera e Maracanã seria ainda mais extenso que a distância do Monumental de Núñez até o Gigante de Arroyito, em Rosário, com 331 quilômetros.
Outra diferença considerável é a estrutura.
O Maracanã e a Neo Química Arena estão entre os estádios mais modernos do continente, recebendo em 2014 nada menos que a semifinal e a decisão da Copa do Mundo. O Monumental de Núñez passa por uma reforma gigante, a maior desde o Mundial de 1978, enquanto a Bombonera, bem mais moderna que nas últimas décadas, ainda tem sua estrutura questionada muito por causa do aperto vivido simplesmente por todos.
Um número impressionante é a soma dos públicos dos dois clássicos. Contando com a lotação nas duas partidas, Corinthians e Flamengo teria o público somado de 126.000 torcedores. Um Boca x River com casa cheia tanto em Núñez como em La Boca contaria com 127.000 pessoas.
Marcelo Gallardo, técnico do River Plate, comemora com jogadores do elenco a conquista da Libertadores da América de 2018
Imagem: Cezaro de Luca/Getty Images
Tradição argentina…
O grande item que pende a balança em favor da dupla portenha é a “mística copeira”. Juntos, Boca e River somam nada menos que dez títulos da Libertadores (seis do Boca e quatro do River), contra três conquistas da dupla Flamengo/Corinthians (duas do Fla e uma do Timão).
A discrepância se vê ainda mais na quantidade de finais — algo bastante valorizado na Argentina, que insiste sempre na recompensa da campanha e na disputa de todos os jogos possíveis em determinado campeonato.
O Boca disputou impressionantes 11 finais de Libertadores; o River, 7. A soma, de 18, coloca ambos realmente muito acima da dupla Fla-Corinthians, com 4 (três do Flamengo e uma do Corinthians).
O peso da história é uma das razões que conferem a atenção da Europa ao Boca x River, também pela paixão dos imigrantes argentinos que se organizam para acompanhar os clássicos até na madrugada no horário local.
Fagner e Cássio com torcedores do Corinthians; João Gomes e Pedro com torcedores do Flamengo
Imagem: Colagem de fotos de Conmebol
…e atualidade brasileira
A quantidade total de torcedores mostra outra realidade. Na pesquisa do jornal “O Globo” em conjunto com o
Ipec
divulgada há duas semanas, o Flamengo teria uma torcida na casa dos 46,50 milhões de pessoas, com 33,06 milhões do Corinthians (21,8% e 15,5%, respectivamente. A soma seria de 37,3%).
A referência mais recente na Argentina também é deste ano, da consultoria “Projección”, que aproveitou o censo nacional para aferir que a torcida do Boca equivale a 42,10% da população (19,3 milhões), com 35,30% da torcida do River (16 milhões). Juntos, os dois times teriam 77,4% dos torcedores argentinos.
A população argentina hoje é de 45,38 milhões de pessoas (dentro da estimativa do que seria a torcida sozinha do Flamengo). No território brasileiro vivem 212,2 milhões de habitantes.
Outra referência? O engajamento nas redes sociais. Segundo a consultoria especializada Deporfinanzas, Flamengo e Corinthians, nesta ordem, dominaram a lista das interações na América do Sul no primeiro semestre deste ano, somando Twitter e Instagram. O River Plate aparecia em terceiro, com o Boca em sétimo (atrás também de
Palmeiras
,
Atlético-MG
e
São Paulo
).
No ranking divulgado no começo da temporada pela revista Forbes, especializada em economia e finanças, o Corinthians aparecia como a marca mais valiosa da América do Sul, com US$ 582 milhões (R$ 3,017 bilhões), com o River em terceiro (US$ 270 milhões), o Boca em sexto (US$ 199,4 milhões) e o Flamengo em sétimo (US$ 190 milhões).
Por fim, e o maior reflexo da Libertadores dos novos tempos, o valor de mercado de cada um dos elencos.
O Flamengo tem hoje o elenco mais caro da competição nesta fase de quartas de final, com uma estimativa de 164,20 milhões de euros, de acordo com a base de dados Transfermarkt. O Corinthians aparece em quarto, com 113,95 milhões de euros (atrás também de Palmeiras, 156,35 milhões, e Atlético-MG, 128,05 milhões).
Reflexo da disparidade econômica entre Brasil e Argentina, o River aparece em sexto (96,05 milhões de euros), com o Boca (78,43 milhões de euros) em sétimo.
O Corinthians x Flamengo terá quatro dos seis jogadores mais valiosos da Libertadores: Gabriel Barbosa (26,00 milhões de euros, o mais caro), De Arrascaeta, Yuri Alberto e Everton.
O mais caro do River, Nicolás de La Cruz, é o oitavo, com 13 milhões (exatamente metade de Gabibol). O primeiro do Boca neste item é o volante Alan Varela, com 7 milhões de euros, só o 31º em tal lista.
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