Hoje no Benfica, o técnico Jorge Jesus, que trabalhou no
Flamengo
entre 2019 e 2020 e faturou os títulos da
Libertadores
e do Brasileirão, entre outros, afirmou que o
futebol
brasileiro
passou a valorizar o “jogo sem bola” depois de sua passagem
pelo país. O depoimento foi dado durante o Global Football Management, evento de gestão esportiva realizado em Lisboa.
“Os jogadores brasileiros não conheciam tão bem o jogo sem bola, [não entendiam] que a tática é tão importante quanto a parte técnica. Foi preciso muito trabalho para fazê-los entender. Sem vaidade, isso começou a mudar depois da nossa passagem pelo Brasil”, afirmou.
Fizemos, então, a seguinte pergunta aos colunistas do
UOL Esporte
:
Jorge Jesus tem razão ao dizer que ajudou a melhorar o futebol brasileiro?
Veja as respostas:
Sim. E o futebol brasileiro ajudou a melhorar Jorge Jesus. O Flamengo de 2019 é o que há de melhor em sua carreira, por méritos de muitos, não só dele. Mas Jesus será sempre o líder de um dos melhores times que o Brasil já viu jogar. Inegável. Com a vantagem de poder comparar o que veio depois, pelo milagre de o elenco ter se mantido. Assim como a nossa cultura do curto prazo, tão nefasta para a perpetuação de novas ideias.
ALICIA KLEIN
Não tanto quanto aquela “autoestima” toda faz parecer, mas é inegável o legado. Principalmente por mostrar que é possível reunir os mais talentosos de forma organizada e com intenso trabalho coletivo. Pulverizou a ideia do “time de índios” do seu antecessor, Abel Braga.
ANDRÉ ROCHA
Menos, Jesus. Ele melhorou demais o Flamengo e praticou um futebol que encontrou a combinação perfeita, resulta e desempenho. Montou um time fantástico que entrou para a história. Isso é inegável. Agora, não vejo legado tático, nem técnicos copiando ideia de jogo. Ficou um exemplo de como se poder jogar quando se tem talento técnico pra isso, mas nenhuma invenção fantástica que tenha a patente de Jorge Jesus.
ANDREI KAMPFF
Jorge Jesus com certeza deixou suas lições, mas o futebol brasileiro, tanto de time como de seleções, já havia mostrado algo tão bom quanto ou melhor que o Flamengo de 2019. Logo, o português recuperou alguns conceitos, mas não os criou como faz parecer.
DANILO LAVIERI
Ele tem se considerarmos que o Flamengo é parte importante do futebol brasileiro. Mas nem o Flamengo seguiu jogando como com ele.
JUCA KFOURI
Jorge Jesus não é nenhum revolucionário. Pegou um elenco muito bom, encaixou e fez virar uma máquina. O sucesso dele foi importante no processo que se iniciou com o 7 a 1, de o futebol brasileiro entender que não é mais o centro do universo. As portas estavam se abrindo para estrangeiros, tanto que ele chegou, e o sucesso dele ampliou esse intercâmbio. Mas antes de Jesus o Brasil já tinha grandes times de sucesso e no futebol de seleções então, nem se fala. Acho que ele faz uma generalização perigosa e vaidosa. Ele não ficou nem um ano aqui, não dá para falar que “os jogadores são assim ou assado”. Ele só teve contato com o time dele e olhe lá. Menos, Jesus.
JULIO GOMES
A passagem dele pelo Flamengo mostrou que é possível montar times competitivos com uma maneira agressiva de jogar. Técnicos brasileiros, e estrangeiros também, acabam adotando formas mais conservadoras alegando deficiências em elenco. Mesmo com o Flamengo tendo um excelente elenco, outro técnico passaram pelo Flamengo pós Jesus e não conseguiram bons rendimento e resultados.
MARCEL RIZZO
Ele deixou lições muito importantes ao construir um time memorável. Não foram aproveitadas.
MENON
Em parte, tem. Teria razão integralmente se outros times tivessem seguido seu exemplo. O que ele fez foi melhorar o Flamengo, deixar uma nova cultura de jogo na Gávea que, infelizmente, da Gávea não saiu.
MILLY LACOMBE
O futebol brasileiro, ou a seleção formada pelo Flamengo, que o ajudou a ter alguma relevância no cenário futebolístico internacional. Não duvido que em alguns dias ele diga que ajudou no parto de Pelé, em Três Corações-MG.
MILTON NEVES
Ajudar, ajudou. Mas valorizou demais seu papel no entendimento do jogador brasileiro sobre tática e momentos do jogo sem a bola. Mostrou certo desconhecimento da história do futebol brasileiro. Ignorou, por exemplo, o que Cláudio Coutinho fez em 1978 e o que Parreira fez em 1994, por exemplo. E, da forma como disse, parece que não existem brasileiros que atuaram na Europa jogando por aqui. Ele mesmo viveu essa experiência no Flamengo.
PERRONE
Com certeza. Seu sucesso no Flamengo acabou com o medo dos dirigentes de buscar técnicos no exterior e dar uma oxigenada no futebol praticado aqui no Brasil. Infelizmente, a paciência e o resultadismo dos cartolas continuam os mesmos. E isso limita um pouco os efeitos do legado de Jesus.
RAFAEL REIS
Sem dúvida. O Flamengo que ele dirigiu praticou um futebol revolucionário por aqui. E, depois dele, muitos outros treinadores tentam copiá-lo (sem grande sucesso). Sua passagem deu uma autêntica chacoalhada nos nossos clubes e treinadores. O português é marrento, mas está coberto de razão.
RENATO MAURÍCIO PRADO
Sim, o trabalho feito por ele foi revolucionário. Ele quebrou paradigmas de treinadores brasileiros, como poupar jogadores. Ele ensinou atletas a jogar com inteligência sem a bola e mostrou que dá para jogar com muita ofensividade durante os 90 minutos, numa busca incessante pelo gol. Algo raro de se ver por aqui.
RODOLFO RODRIGUES
Teria razão se tivesse realmente deixado um legado dentro do próprio Flamengo. Algo que não aconteceu, pois ele mesmo vetava a participação de profissionais do clubes nos treinamentos e impedia que seus métodos de trabalho fossem conhecidos mais a fundo ou registrados. Ele fez um grande trabalho no Flamengo. Construiu o melhor time do país nas últimas décadas e mostrou toda a sua qualidade como treinador. Mostrou também que é possível praticar um futebol mais ofensivo e organizado, mas sem esquecer da defesa. legado não deixou não.
RODRIGO COUTINHO
