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Centroavante de 300 gols: Marcelo Ramos explica a falta do 9 na atualidade


Nos anos 1980 e 1990, o

futebol

brasileiro contava com centroavantes que encantavam os torcedores, como Romário, Ronaldo Fenômeno, Careca, Reinaldo, Serginho Chulapa, Roberto Dinamite, Viola, Túlio, Luizão… Jogadores com o carimbo ‘tipo exportação’. Entre eles, também se destacou Marcelo Ramos, que anotou mais de 300 gols ao longo da carreira, sendo 282 apenas por

Cruzeiro

(162) e Bahia (120).

Clássico camisa 9, Marcelo Ramos, atualmente com 48 anos, aponta, em entrevista ao

UOL Esporte

, que no futebol moderno os treinadores têm pensando no sistema de jogo que prejudica a atuação dos centroavantes, muitas vezes os escalando para flutuar para exercer a função do famoso “falso 9”.

“Não entendo, está difícil essa posição. A base tem muitos treinadores que gostavam de jogar com o 9 como referência, mas outros preferem usar o cara para correria, de beirada, e isso aí é bem complicado. Às vezes, o cara está ali, tem essa característica de 9, mas o treinador não o coloca”, analisou.

“O

Atlético-MG

tem o Hulk, que está fazendo essa função, mas não é a posição dele. O Flamengo tem o Pedro que é 9, um camisa 9 mesmo, além do

Gabigol

, que, pra mim, não é um 9. Nas gerações das décadas de 80 e 90 a gente tinha demais. No Cruzeiro, por exemplo, tínhamos o Fábio Júnior, Aristizábal, Paulinho McLaren, Oséas…”, completou.

Alex, Aristzábal e Marcelo Ramos em jogo festivo do Cruzeiro - Cruzeiro/Divulgação - Cruzeiro/Divulgação

Alex, Aristzábal e Marcelo Ramos em jogo festivo do Cruzeiro

Imagem: Cruzeiro/Divulgação

Revelado pelo Bahia, no fim da década de 80, Marcelo Ramos ganhou ainda mais notoriedade quando se transferiu para o Cruzeiro, em 1995. Apesar de carregar na bagagem a fama de goleador em Salvador, o centroavante teve que superar as desconfianças, uma vez que a Raposa, meses antes, havia negociado um jovem de 17 anos ao holandês PSV Eindhoven por US$ 6 milhões à época. Tratava-se de Ronaldo, que recém havia sido tetracampeão mundial com a seleção brasileira nos Estados Unidos.

“Cheguei ao Cruzeiro numa situação. O Ronaldo havia saído depois da Copa do Mundo e teve aquilo: ‘ah, não tem um centroavante igual ao Ronaldo’. Era difícil ter, o cara era demais, as características completamente diferentes. Então, o meu primeiro semestre no Cruzeiro não foi muito legal, apesar de eu ter feito oito ou nove gols no Campeonato Mineiro, mas para a época era muito pouco. Teve uma desconfiança muito grande”, recordou, o jogador que foi fundamental nas conquistas do Cruzeiro na Copa do Brasil de 1996 e da

Libertadores

no ano seguinte.

“Mas chegou o [técnico] Ênio Andrade, que foi o divisor de águas para eu ter essa história no Cruzeiro. No Brasileiro de 95, fiquei no banco no primeiro jogo, e acho que o Fernando Flores se machucou. O Ênio me deu a oportunidade contra o

Corinthians

, um jogo de grande repercussão, e eu fiz dois gols [em agosto daquele ano, no Mineirão]. O primeiro gol foi o mais rápido do campeonato, com 11 segundos de jogo. Depois, faço o segundo. Dali em diante eu não consegui jogar mal e fiz um campeonato muito bom, tanto que tive a minha única convocação para a seleção brasileira, num amistoso em Salvador [contra o Uruguai].”

Dupla de ataque com Ronaldo

Apesar de nunca ter atuado ao lado de Ronaldo, visto que foi contratado pelo Cruzeiro justamente para suprir a saída do Fenômeno para a Europa, Marcelo Ramos até hoje deslumbra como seria a dupla de ataque com o atual dono da SAF celeste.

“Dava, sim, para jogar com o Ronaldo. Eu era o jogador que fazia o 9, o 9 centralizado mesmo, fazia bem o pivô, mas eu gostava de muita movimentação. Então, fazia um meia-atacante, caía para os lados do campo também, não era um jogador lento, mas também não era um velocista, tinha muito bom posicionamento, tanto que depois eu joguei com vários centroavantes, claro que tinham características diferentes de Ronaldo.”

“Teve uma história engraçada do jogo [amistoso com o Uruguai, em 1995], aqui em Salvador. O Ronaldo fez os dois gols e se machucou. Automaticamente iria entrar um 9. Pessoal fala aqui que eu estava numa fase tão boa que o Zagalo não quis me colocar porque poderia complicá-lo, pois a torcida na Fonte Nova gritava o meu nome para entrar. Mas ele colocou o Sávio”, relembrou aos risos.

SAF do Cruzeiro em boas mãos

Na atual campanha da Série B, o Cruzeiro soma uma vitória e uma derrota e busca retornar à elite do Brasileirão após fracassar nas duas últimas temporadas. Sexto maior artilheiro da história do Cruzeiro, com 162 gols – ele foi o último jogador a superar a marca de 100 gols com a camisa celeste —, Mattos diz estar otimista com a nova gestão da Raposa.

“Estou muito otimista como todo cruzeirense, com esta questão do Ronaldo e SAF. Penso que o Cruzeiro está com um time muito competitivo. São quatro times que vão subir. Tem

Grêmio

, Bahia,

Vasco

e Sport, são times de tradição. Ainda tem outros também são clubes importantes, como Ponte Preta e Guarani. Mas eu acho que o Cruzeiro, depois dessa situação [venda de 90% das ações da SAF] já dá uma diferença do que foi 2020 e 2021, sem torcida e sem poder contratar. Vai ser difícil, mas eu penso que a tendência é que sofra menos esse ano, mas acredito no acesso. Tomara que subam os dois, Bahia e Cruzeiro”, finalizou.

Mais trechos da entrevista com Marcelo Ramos


Apelido de Flecha Azul

“Eu era muito rápido, raciocínio rápido para poder fazer os gols, no último lance, na última bola… Eu me posicionava muito bem. O Alberto Rodrigues [locutor esportivo na capital mineira], sempre colocou apelidos assim. No próprio Joãozinho, ponta da década de 70, chamou de Bailarino Azul. Dirceu Lopes era Príncipe Azul, o meia Alex de Talento Azul, o ex-volante Ricardinho de Mosquitinho Azul. Até hoje quando chego em Minas Gerais me chamam de Flecha azul, muito legal, legal pra caramba mesmo.”


Passagem pelo Palmeiras: represália por gols e título de 96?

Atacante Marcelo Ramos comemora o segundo gol do Palmeiras na vitória sobre o Atlas, no Parque Antarctica, pela Libertadores 2000 - Jayme de Carvalho Jr./Folhapress/Jayme de Carvalho Jr./Folhapress - Jayme de Carvalho Jr./Folhapress/Jayme de Carvalho Jr./Folhapress

Marcelo Ramos comemora após marcar pelo Palmeiras na vitória sobre o Atlas-MEX, pelas quartas da Libertadores de 2000

Imagem: Jayme de Carvalho Jr./Folhapress/Jayme de Carvalho Jr./Folhapress

“Graças a Deus, nenhuma [represália]. No Palmeiras, eu fiz dez gols, joguei muitos jogos pelo Campeonato Paulista e Libertadores, mas ficava mais no banco. O Felipão jogava com o Penna e o Euller na frente. Mas até hoje os torcedores do Palmeiras falam quando eu vou para São Paulo como foi boa foi aquela classificação em cima do Corinthians, na semifinal da Libertadores de 2000 [vitória por 3×2 tempo normal e 5×4 nos pênaltis para o Palmeiras], quando eu bati [o primeiro] pênalti.”


Coração dividido por Bahia e Cruzeiro

“É bem engraçado. Quando eu posto alguma coisa do Cruzeiro, a torcida do Bahia fica um pouco chateada, mas é normal pelas conquistas. Sou o segundo maior jogador que conseguiu conquistar títulos [pela Raposa, com 14 taças], só atrás do ex-volante Ricardinho, que tem 15. No Bahia, foram três campeonatos estaduais que são importantes. Mas um título de Libertadores [em 1997] e ser decisivo numa Copa do Brasil [em 1996], fazendo gols importantes e chegando ao Mundial de Clubes, acabou tendo um destaque maior. Isso é normal pelas conquistas, mas o sentimento é igual pelos dois clubes. Sou muito grato ao Bahia por ter me formado como atleta e também como cidadão, mas o Cruzeiro ele tem essa diferença em relação as conquistas.”


Amor pelo vôlei e preconceito com a modalidade

“Seria a primeira opção, porque eu gostava dos dois esportes e gosto até hoje. Tanto que as pessoas falam para mim, ‘ah, você não gosta de futevôlei’. Não é que eu não goste, eu prefiro jogar vôlei porque eu me sinto melhor. Em 1990, eu fiz muitos gols e a família apoiou também, fiquei no Bahia para ver o que ia acontecer, se iria dar jogo ou não. Mas a gente tinha muitas dificuldades [para jogar vôlei]. Eu não sei se a palavra é descriminação, mas gente via quer era mais fácil no Rio de Janeiro e em São Paulo. Então, aqui a gente tinha essa dificuldade de não ter apoio. O meu pai era muito tranquilo em relação a isso, iria me apoiar da mesma forma. Minha família era simples, humilde, mas as pessoas falavam: ‘você está jogando muito [bem futebol], está se destacando’. O Charles [ex-atacante do Bahia] tinha sido campeão brasileiro em 88 e tinha sido vendido para o Cruzeiro. Tinha aquilo também, de ser o substituto do Charles. Em 1991, eu tive a primeira oportunidade de jogar no time principal e já consegui fazer um gol na estreia. As coisas foram muito rápidas para mim.”

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