Falar que o Flamengo é diferente, falar que sonha em jogar no Flamengo, falar que o Flamengo é o time do coração, é das coisas mais fáceis do mundo.

Ronaldinho era flamenguista até ver que poderia ganhar mais dinheiro no Corinthians, Podolski cansou de usar o manto mas nunca pra entrar em campo, Neymar já se declarou pro Flamengo mas não tem previsão de aparecer lá no CT pra treinar jogada ensaiada com o Rodinei.

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Em suma, poucas coisas são mais comuns do que torcer pro time de maior torcida do Brasil e poucas coisas são mais garantidas do que receber aquele abraço da Nação quando você menciona o Flamengo em qualquer entrevista, matéria ou podcast da vida, mas daí até realmente querer enfrentar o desafio, querer encarar a pressão, querer lidar com a realidade prática que envolve vestir o manto rubro-negro, vai uma distância que poucos desses jogadores que adoram falar de Flamengo parecem ser capazes de encarar.

E é aí que entra Arturo Erasmo Vidal Pardo. Um cidadão chileno, nascido em Santiago e revelado pelo Colo-Colo. Um homem que já vestiu as camisas de Bayern, Juventus, Barcelona e Inter de Milão. Um jogador que não tem família brasileira, que não tem esposa carioca, cuja principal ligação com o Brasil é ter sido amigo do Rafinha, parça do Renato Augusto, basicamente ter sido colega de trabalho de alguns caras que conhecem o futebol brasileiro. E que daí decidiu que queria jogar no Flamengo.

Mas Vidal não apenas “decidiu que queria jogar no Flamengo”. Vidal fez campanha. Vidal fez declarações. Vidal deu entrevistas. Vidal fez as mais bizarras e aleatórias postagens no Instagram. Mas ao contrário de tanta gente que queria o Flamengo da boca pra fora, pra fazer média, pra se promover, Vidal veio mesmo para o Flamengo. E ao contrário de também tantos outros grandes nomes que no passado já vieram para o Flamengo para se aposentar em campo, Vidal veio para jogar bola. Pra dar carrinho, pra dar bote em vagabundo, pra fazer gol.

E foi isso que Vidal fez hoje, na vitória suada do Flamengo por 1×0 sobre o Botafogo no Engenhão. Após um primeiro tempo confuso e angustiante em que uma equipe rubro-negra praticamente inofensiva foi pressionada por um Botafogo tecnicamente inferior mas bem mais disposto, Dorival Junior, depois de 45 minutos possuído pelo espírito obsessor de Paulo Sousa, finalmente decidiu mexer colocando Pedro e Éverton Ribeiro, adicionando o mínimo de qualidade necessária para que o gol saísse. E foi, é claro, dos pés de Vidal, o homem que neste fim de semana já havia confundido a internet ao oferecer um milhão de alguma coisa pra quem encontrasse o cachorrinho desaparecido de sua filha – todo mundo achou que eram reais mas eram pesos chilenos.

E a vitória de hoje, além de mais um passo na busca por um nono título brasileiro que já pareceu bem mais distante, é também consequência dessa capacidade que o Flamengo tem de cativar, de emocionar, que fez um chileno doido, com a vida resolvida e que já ganhou tudo que poderia ganhar, decidir que só seria feliz se pudesse viver a experiência de estar no Engenhão, num domingo a noite, disputando bola com o Tchê Tchê e o Jefinho. Porque sim, Vidal visivelmente é maluco. Mas essa maluquice que ele vive, e que é causada pelo Flamengo, todos nós conhecemos e é ela que permite que, quando o racional não funciona, a gente conquiste vitórias e taças mesmo assim. Então que eu, você e Vidal possamos estar ainda mais malucos no fim desse ano, se deus quiser.

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