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A diretoria não tinha esse direito. Uma carta a Dorival


Eu sou advogado. Meu trabalho é estudar, operar entender a lei. Durante muito tempo, o direito era intrinsecamente ligado a moral de uma sociedade. Era proibido aquilo que atentava contra os bons costumes de uma população. Foi Hans Kelsen, em 1934, com sua Teoria Pura do Direito que começou a mudar a maneira como víamos.

Passou a ser direito aquilo que foi escrito na lei, como a gente diz “positivado”. Mas as relações humanas nunca puderam e nem poderão ser mediadas só por aquilo que está na lei. Há valores e princípios que nos fazem agir ou deixar de agir de determinada forma.

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Não existe lei que te obrigue a dar benção a um familiar mais velho, nem lei que te impeça de soltar flatulências no elevador. E não há lei que impeça o Flamengo de negociar com outro técnico enquanto enrola na renovação do atual, que acaba de ser campeão da Libertadores e da Copa do Brasil.

Mas existe caráter, boa-fé, hombridade e ética. E tudo isso faltou à diretoria do Flamengo no trato com Dorival Júnior. Tanto a diretoria quanto parte da torcida tratam o absurdo acontecido com uma naturalidade ultrajante pois não dão a Dorival a importância e o peso que ele tem para este clube.

Dorival foi responsável direto por uma das maiores temporadas da história do Clube. Alguns dias depois foi demitido pela imprensa. Assim como Rogério Ceni foi, às 3 da manhã.

E então a internet tenta racionalizar: “Ah, mas o Dorival largou o Ceará pra vir pro Flamengo”, “O Landim com certeza sabe que o Dorival vai para a Seleção, por isso fez isso”, “Mas o desempenho nos três jogos finais do Brasileiro foi absurdo” são algumas das justificativas esdrúxulas para o injustificável.

Qualquer argumento deve ser confrontado com “Bastava avisar ao cara que não iria renovar”. Seria bizarro? Seria. Mas o mundo é assim, contratos podem ou não ser renovados, por melhor que você seja. Mas teria havido ética.

Dorival sempre foi correto com o Flamengo, merecia ao menos reciprocidade. É triste e lamentável que a diretoria o trate assim. Espero que a escolha se mostre certa dentro de campo, porque nasce errada no ponto de vista moral. A mesma diretoria que não renovou com o Dorival para contratar Abel Braga, que contratou e manteve Paulo Sousa em um trabalho natimorto, que demitiu Rogério Ceni de madrugada por causa de um áudio vazado de WhatsApp para contratar Renato Gaúcho, agora manda embora o campeão da Libertadores e da Copa do Brasil. Que Deus tenha piedade dessa nação.

Deixo abaixo uma carta aberta a Dorival Júnior:

Pela segunda vez eu vejo você se despedir do Flamengo. Em 2018, eu fiquei em desespero. Naquele momento, era certo que com a sua saída, nosso técnico seria Abel Braga. A escolha se mostrou um desastre e fomos salvos por Jorge Jesus, que nos deu um ano mágico.

Quando você voltou, comentei com alguns amigos que isso era reparação histórica. Você teria a chance de fazer aquilo que lhe foi negado em 2019 sem motivos. E você, fazendo o papel que foi de JJ em 2019, foi muito bem-sucedido. Te agradeço pelo que nos deu, pelo que me deu. E te peço desculpas pela postura da diretoria. Isso não deveria ser a maneira de agir do Flamengo. Mas infelizmente é, e não é a primeira vez que isso se mostra. Boa sorte Dorival, espero que sua próxima parada seja mesmo a seleção, e eu estarei na torcida. A nação te deve, percebendo isso ou não.

Renato Veltri é Advogado, formado pela UFRJ em 2019 e flamenguista formado pela irmã dele na final da Copa do Brasil de 2006. Twitter: @veltri_renato

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