Na histórica goleada por 4 a 0 sobre o Vélez Sársfield, em Buenos Aires, é possível analisar minuciosamente arranjos táticos, movimentações e comportamentos individuais, mas este texto pretende adotar o caminho mais simples para explicar como o
Flamengo
decidiu a semifinal antes mesmo do duelo derradeiro no Maracanã.
No posicionamento
.
O impressionante senso de espaço desta equipe permitiu aos jogadores forçarem os passes mais complicados e ainda assim terem êxitos em eventuais perdas de posse.
Ocuparam o campo, tomaram conta dele, tanto na parte ofensiva quanto na recomposição.
Impressiona também como o
Flamengo
se reposicionou no continente. Se no início da reconstrução do clube iniciada em 2013, a torcida sofria com brevíssimas participações na Libertadores – duas quedas na primeira fase e uma nas oitavas antes de 2019 -, hoje vê um time que tem o costume de vencer com autoridade fora de casa.
Para se ter uma noção, não perde como visitante desde a terceira rodada da fase de grupos da edição de 2020. Desde então, jogou 12 vezes, venceu 10 e empatou apenas duas.
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Abraço coletivo mostra o que foi o Flamengo no José Amalfitani — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
Abraço coletivo mostra o que foi o Flamengo no José Amalfitani — Foto: Marcelo Cortes/Flamengo
Gols mostram ”
Flamengo
das soluções”
+ Dorival elogia série de boas atuações do Flamengo e vê time na briga pelos três títulos
“Prazeroso trabalhar com grupo que tem a busca por soluções dentro do que apresenta”
.
Dorival Júnior disse isso em uma de suas primeiras respostas na entrevista coletiva, e o jogo refletiu bem isso.
Solução 1: visão de jogo
No primeiro gol, após um ataque, Léo Pereira ainda estava no campo ofensivo quando recebeu de Rodinei pela direita. O lateral passou esperando a bola.
O zagueiro, de bom poderio técnico acima, não optou pela solução mais simples e negou-se a devolver a bola. Olhou para a área, viu que Gabigol prendia um marcador e deu um cruzamento fechado na direção de Pedro. A defesa adversária toda errou, e o 21 não perdoou. Léo, aliás, reafirmou o excelente momento com ótimo tempo de bola, antecipações e presença intensa na distribuição de passes.
Solução 2: aproximação permite combate e correção que termina em colírio
O segundo gol rubro-negro, de longe o mais bonito do jogo, mostra o quanto esse
Flamengo
tem soluções para as mais variadas situações, como diz Dorival. A construção começa com um erro de passe Filipe Luís.
Bem posicionado, João Gomes dá o bote certeiro
em Cáseres, e a bola volta para Filipe, que aciona Pedro de primeira.
O craque do jogo parte para cima de dois rivais, os corta e entrega a Everton Ribeiro.
Aí mais um abacaxi é descascado.
O camisa 7 domina mal e entrega na fogueira para Arrascaeta. O uruguaio não se assusta com a aproximação de dois rivais e toca de primeira, por cima. Sem deixar cair do chão, Gabigol entrega a bola e a caneta para Ribeiro assinar a obra.
Solução 3: complexidade e simplicidade
De futebol rebuscado, Filipe Luís começa o terceiro gol fazendo fila e entrega a João Gomes. O volante tenta devolver dentro da área, mas erra. Como Filipe infiltrou corretamenta, a bola sobra em seus pés, e ele livra-se da aproximação de três rivais com um passe simples. Gabigol também fez o mesmo e deixa Pedro livre para, com um toque mais complexo, finalizar a jogada: 3 a 0.
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Pedro marcou três gols em Vélez x Flamengo — Foto: Foto: Marcelo Cortes / Flamengo
Pedro marcou três gols em Vélez x Flamengo — Foto: Foto: Marcelo Cortes / Flamengo
Solução 4: verticalidade de Pedro
No gol que matou o jogo e a semifinal, Pedro, da ponta-esquerda, toca para o meio em Vidal, e a jogada se desenha para Gabigol. O chileno não hesita e entrega ao 9. Atento, Pedro se projeta no meio de um triângulo formado por Seoane, Jara e De los Santos. A bola de Vidal desvia em um rival, e quem estava bem colocado para fechar a conta? Sim, o centroavante de quem Tite tanto fala. Tapa certeiro no canto.
Posicionamento defensivo e bola aérea afinados
Ponto que poderia passar despercebido numa goleada por 4 a 0 foi a grande atuação defensiva do
Flamengo
. No jogo aéreo, David Luiz teve atuação soberba. Ganhou todas e acertou até ao forçar o cartão amarelo e se poupar do jogo de volta. Ele e Léo Pereira, aliás, também permitiram que o time saísse com qualidade do campo defensivo. Os laterais cooperavam e partiam no momento certo, ora por um lado ora pelo outro.
Rodinei, como de praxe, foi quem mais avançou, porém Filipe teve presença ofensiva muito importante. O terceiro gol é prova maior disso.
Como fazer uma análise e não citar a grande atuação dos volantes? Estiveram incansáveis no combate, mas também participaram ativamente da construção. João Gomes foi o maior ladrão de bolas, com cinco desarmes, e agrediu bastante. Chutou em gol no início da partida, mostrando personalidade, e ainda deixou Gabigol duas vezes na cara de Hoyos.
Um
Flamengo
que encontrou soluções aos montes com seus titulares ainda se dá ao luxo de ter um banco repleto de opções para mudar jogos.
Soluções faltaram ao
Flamengo
para furar retrancas em 2021, e o sintomático empate por 0 a 0 com o Cuiabá no Maracanã e a traumática derrota na final da Libertadores. O
Flamengo
de hoje está preparado para os mais variados desafios, sejam eles ferrolhos defensivos, times violentos, gramado ruim ou grama sintética. Um
Flamengo
maduro para seguir fazendo história.
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