Fundador, líder e conselheiro vitalício da organizada ‘Urubuzada’, Marcelo José Gomes Gonçalves foi nomeado na primeira semana de mandato de Marcos Braz como vereador da cidade do Rio de Janeiro
Criticado por sua
relação com torcidas
e pela
decisão de marcar uma reunião no Ninho do Urubu
entre
organizadas e elenco no momento em que o futebol profissional sofre com fortes protestos,
o vice-presidente de futebol do
Flamengo
e vereador da cidade do Rio de Janeiro, Marcos Braz (PL-RJ),
mantém em seu gabinete na câmara municipal ao menos um funcionário ligado diretamente às torcidas do clube
. Fundador, líder e conselheiro vitalício da organizada “Urubuzada”,
Marcelo José Gomes Gonçalves foi nomeado na primeira semana de mandato do político
– em sete de janeiro de 2021. Ele recebe
R$ 7.068,43 líquidos pela função de Auxiliar de Gabinete DAI-6
no mandato de Braz.
“O Marcelo é designer gráfico, trabalha comigo sim. O rapaz é formado na área. Foi nomeado por uma questão técnica. Ele trabalha bem nessa área, se mostra um bom funcionário. Eu precisava. Então o chamei”, explicou, sem rodeios, Marcos Braz.
Paz do elenco x atenção à base eleitoral
Dividido entre defender a tranquilidade do grupo de jogadores no departamento de futebol e não perder o apoio das organizadas que sustentam sua base eleitoral, o cartola-político disse não enxergar nenhum conflito de interesses ao abrigar e remunerar com dinheiro público um membro da facção rubro-negra em seu gabinete.
“Eu não vejo conflito nenhum, sinceramente. É claro que eu já tinha uma relação anterior com ele. Mas isso é normal. A gente acaba desenvolvendo relação com muita gente. Mas não podem achar que isso é por causa de campanha eleitoral, por causa de organizada. Nem achar que tenho influência com torcida por isso. São coisas diferentes. Ele faz o trabalho dele lá no gabinete, no meu mandato”, explicou Braz.
“Eu jamais faria algo ilegal. Sei que tem mais de 800 lupas de todos no meu gabinete. É normal. Isso acontece. Levo na boa, faz parte do jogo. Mas não faço nada de errado. Não peço indicação aos outros em secretaria, nada. Tenho todo o cuidado possível”, completou o vice-presidente de futebol e vereador.
Mesmo sem comparecer com frequência à câmara de vereadores, Marcelo está na folha salarial oficial do gabinete. Ele, no entanto, não é o único ligado às organizadas rubro-negras a trabalhar para o vereador. Pessoas que acompanham o dia a dia do grupo afirmaram à ESPN que outros membros de torcidas do Flamengo fazem parte do mandato.
A reportagem ainda pôde checar familiares de presidentes de organizadas trabalhando para Marcos Braz em sua função na câmara municipal.
Nos contatos com o restante da diretoria do Flamengo, o vice-presidente de futebol não nega sua postura em relação às torcidas. Na última segunda-feira, questionado sobre o encontro – previsto para quinta e posteriormente cancelado pela repercussão negativa interna -, Braz disse que “segurou as organizadas durante muitos momentos” da gestão de Rodolfo Landim e que agora deveria atender o grupo.
Organizada admite apoio a Marcos Braz em eleição
Procurada pela
ESPN
, a Urubuzada assegurou que o fato de ter um de seus líderes como funcionário de Marcos Braz não afeta a autonomia da torcida em seus posicionamentos. “Sempre fomos independentes. Isso não muda nada. Se tivermos que criticar o vice-presidente de futebol ou qualquer outro dirigente, assim faremos”, diz o atual presidente da torcida, Luiz Octávio.
A torcida, no entanto, não nega o apoio institucional na campanha para a eleição do vereador em 2020. “Realmente participamos ali. Organizávamos eventos no Centro da cidade (do Rio de Janeiro) e na Tijuca (bairro da zona norte). Ali nós apoiamos o Marcos. E o Marcelo estava conosco nessa. Acabou que ele foi para o gabinete. Mas isso ocorreu pelo trabalho que ele desempenhava em sua área”, completou Luiz Octávio.
As torcidas organizadas sempre formaram a liderança das campanhas de Marcos Braz. Em 2012, na sua primeira tentativa de ser eleito vereador, facções mais tradicionais tentaram “puxar” voto para o cartola rubro-negro. Sem muito sucesso, ele teve apenas 2.268 votos e não entrou na câmara.
Durante a corrida eleitoral, era comum ver o agora vice-presidente de futebol chegando aos estádios nos tradicionais “bondes” das organizadas. Em um vídeo amador viralizado na época, Braz está de braços dados com os principais líderes da Raça Rubro-negra puxando – com gritos de ordem – o grupo que, escoltado pela Polícia Militar, chegava ao Estádio Nilton Santos para um clássico do Campeonato Brasileiro.
Em 2022, nada diferente. De olho em uma vaga na Câmara dos Deputados em Brasília a partir de 2023, o cartola-político sabe que não pode desagradar sua base às vésperas da definição de sua candidatura para Deputado Federal.
Assessor de Vini Jr nomeado por “desencontro de informações”
A situação conflitante de Marcelo Gonçalves e organizadas não chega a representar algo inédito no gabinete de Marcos Braz. Em janeiro de 2021, tão logo tomou posse, o vereador nomeou um dos representantes do atacante do Real Madrid Vinicius Júnior como Oficial de Gabinete. O mesmo ainda participava da gestão de carreira de alguns outros jogadores que tinham relações com o Flamengo.
À época, Braz informou que a nomeação se deu por um “desencontro de informações”. O convite ao representante de Vinicius ocorreu, mas ele não chegou a aceitá-lo oficialmente. Por uma “confusão”, como as duas partes argumentaram, a publicação como Oficial de Gabinete teria ocorrido por engano – sendo exonerado um dia após ser destaque no noticiário. Mesmo questionado e balançando no cargo em função do noticiário dos últimos dias, Marcos Braz tenta demonstrar tranquilidade. “Eu estou acostumado. Futebol é assim mesmo. Quando a bola não entra, não adianta, é tiro de tudo que é lado. Mas vamos seguindo. A temporada continua”, disse.
Procurado pela
ESPN
ao longo de toda a semana, Marcelo Gonçalves não atendeu ligações e também não respondeu mensagens enviadas para comentar o caso.
