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No Flamengo de Paulo Sousa, as funções acima dos nomes


Não é possível dizer que, em futebol, resultados não importam. Joga-se por eles, afinal de contas. Mas é curioso como o julgamento sobre personagens se sujeita ao desfecho dos jogos, sejam eles encontros por fases classificatórias de Estaduais ou partidas definidas por margens mínimas, como a Supercopa em que o Atlético-MG derrotou o Flamengo após 24 cobranças de pênaltis. O olhar sobre o rubro-negro Paulo Sousa é um exemplo de como, por vezes, a tentativa de adaptar a narrativa aos placares nos faz perder o essencial.

Derrotado no Fla-Flu disputado há pouco mais de duas semanas, o português viu suas constantes mexidas na equipe, método anunciado por ele ao início da temporada, tornarem-se quase um folclore. Em seguida, o 2 a 2 de Cuiabá, seguido pela interminável sequência de penalidades, foi tratado como um clássico de alto nível. Mas mal o clássico com o Botafogo se aproximava e a partida era tratada como uma “chance de recuperação”, como uma “resposta”, como a oportunidade de enfim vencer um rival de peso. O Flamengo bateu com certa sobra o alvinegro, sua atuação foi saudada como uma espécie de afirmação do trabalho, mas o que se viu em campo nada mais era do que um processo em evolução, uma etapa da construção de um time para a temporada. E, provavelmente, uma virtude importante foi pouco notada.

Flamengo abre o placar contra o Botafogo — Foto: André Durão/ge
1 de 1 Flamengo abre o placar contra o Botafogo — Foto: André Durão/ge

Flamengo abre o placar contra o Botafogo — Foto: André Durão/ge

É verdade que o Flamengo fluiu de forma notável com a bola, que encontrou aproximações para tabelas curtas, que infiltrou pelo meio da defesa adversária – algo cada vez mais difícil no jogo atual – e que alternou lances de construção paciente, como no terceiro gol, com contragolpes rápidos como o do lance convertido por Gabigol. No entanto, o que talvez mereça mais destaque é o fato de o time ter feito tudo isso com uma escalação que trazia cinco mudanças em relação ao jogo da Supercopa. Ainda é cedo demais para decretos e vereditos, mas talvez este seja o dado mais promissor sobre o atual trabalho da comissão técnica.

Encerrado o jogo, pouco se falou que meio time rubro-negro fora alterado em relação à decisão de Cuiabá, jogo que, em tese, veria em campo a “formação ideal” de Paulo Sousa. E, provavelmente, a raridade de tais comentários se deu porque a naturalidade com que o time funcionou acabou por deixar a escolha do onze em segundo plano. O Flamengo tem muitos talentos, mas a execução do sistema, de uma ideia, começa a ser o centro do jogo. E a beneficiar as individualidades. Talvez seja um sinal de um trabalho que busca fazer todo o grupo compreender os mecanismos. Leva tempo, por vezes arrisca resultados, mas é a opção por um caminho sem atalhos.

É impossível dizer, agora, o nível de sucesso que Paulo Sousa terá no Flamengo. Há todo tipo de ponderações a fazer, do início do trabalho à fragilidade do Botafogo. Mas os sinais recentes são bons, especialmente com bola. Na hora de defender, o time ainda mostra pontos a progredir, especialmente quando não consegue recuperar a bola no campo ofensivo. Os espaços às costas dos volantes ainda surgem, e o Flamengo tem mais dificuldade para proteger as imediações de sua área.

O jogo com Botafogo mostrou um time que respondeu bem às mudanças na escalação. Uma delas, a entrada de Léo Pereira na vaga de Filipe Luís. Em tese, o desenho mudou pouco: o Flamengo seguia iniciando a construção de jogadas com três homens atrás, mas no lugar de um deles ser um lateral, eram três zagueiros natos. Ao defender, Matheuzinho recompunha como lateral pela direita. No entanto, foi mais comum ver Lázaro, o ala pela esquerda, retornar até a última linha de defesa, como um quinto homem. Algo que já acontecera em jogos do Estadual em que o Flamengo utilizou um zagueiro no lugar de Filipe Luís.

No ataque, tem sido interessante ver Gabigol se adaptando a ser ora um “camisa 9” de mobilidade, ora um dos homens por trás do centroavante, no caso Pedro. Ontem, ele e Arrascaeta foram bem ao acionar Pedro ou ao infiltrar na área em diagonais que a permissiva defesa alvinegra teve dificuldade de marcar. Por ora, tudo são sinais, sintomas. Só a sequência permitirá constatar se este Flamengo terá consistência.

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