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Flamengo, Atlético-MG e o verdadeiro inferno


As rivalidades, quando olhadas sob o aspecto estritamente esportivo, são parte da essência do jogo, elementos fundamentais para construir a expectativa em torno de uma decisão como o Flamengo x Atlético-MG desta quarta-feira. Por vezes, no entanto, o problema é o uso que se faz delas. Haveria tantos elementos saudáveis a valorizar nas horas anteriores ao clássico pela Copa do Brasil, mas os dirigentes dos dois lados preferiram nos oferecer justamente o oposto: no vale-tudo da tentativa de obter vantagens, alimentaram picuinhas tolas, amplificaram a tensão, tornaram o jogo quase um elemento secundário. E pior de tudo, perderam outra grande oportunidade de dar um ótimo exemplo, enviar uma mensagem positiva a todo o ambiente do futebol.

O estopim da vez para colocar combustível num terreno altamente inflamável foi a entrevista de Gabigol após o jogo de ida, no Mineirão. Era óbvio que seu objetivo ao dizer que o Atlético iria “conhecer o inferno” no Maracanã passava longe de pregar a violência. Mas como existe um mundo real ao redor, por vezes é importante fazer concessões a ele. O futebol está envolto numa atmosfera tóxica e violenta, o que significa que, mesmo que de forma involuntária, Gabigol escolheu mal a palavra, foi infeliz. Mas, até aí, era possível evitar que uma entrevista transformasse o clima em torno do jogo num barril de pólvora.

Lance de Atlético-MG x Flamengo na Copa do Brasil  — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG
1 de 1 Lance de Atlético-MG x Flamengo na Copa do Brasil — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG

Lance de Atlético-MG x Flamengo na Copa do Brasil — Foto: Pedro Souza/Atlético-MG

Pois o Atlético-MG transformou o tema em conflito. Foi ao tribunal, numa ação em que até citava os riscos de uma interpretação violenta da declaração do atacante rubro-negro. No fundo, no entanto, o que pedia mesmo era uma punição a Gabigol. Seja pelos antecedentes da cartolagem brasileira, seja pela forma da ação atleticana, fica difícil enxergar ali uma real pretensão de jogar água na fervura, apaziguar ânimos. Resta a imagem de que o foco, como de hábito no futebol nacional, é gerar algum tipo de vantagem esportiva. E se Gabigol pode argumentar que usou o termo “inferno” na saída de um jogo, ainda no campo, num momento menos propício para medir as consequências, o mesmo não pode dizer o vice de futebol rubro-negro. Marcos Braz repetiu a palavra após a derrota para o Corinthians, no domingo.

A falta de interesse em construir um ambiente melhor em torno de um clássico tão nobre, aliás, parece ser o único ponto de convergência entre os dois lados. O tema já ganhara redes sociais, as notícias sobre mobilização de torcidas organizadas já corriam de forma preocupante. Em qualquer ambiente realmente comprometido com a preservação do jogo, do clássico e com a criação de uma atmosfera saudável para o público que vai ao Maracanã, dirigentes estariam imediatamente em contato deliberando sobre como jogar água na fervura. Estariam discutindo ações conjuntas para promoção do jogo em sua faceta esportiva, alimentando a expectativa pelas disputas entre os grandes jogadores que estarão em campo e, principalmente, passando mensagens sobre como dois rivais podem ser apenas adversários, não inimigos. Como podem conviver.

Mas as últimas horas antes do jogo de quarta-feira viram outra tentativa um tanto anacrônica, esta do Flamengo, de obter vantagem. O clube fez da polêmica entre Hulk e Anderson Daronco, que apitou o jogo do Atlético-MG contra o São Paulo, o motivo de um ofício enviado à CBF pedindo “um árbitro de Copa do Mundo” para a partida desta quarta-feira. É curioso, mas é puro suco de Brasil: o Flamengo reclama do que entende ser uma estratégia de pressão dos atleticanos sobre os árbitros, e contrapõe com um documento justamente para pressionar um juiz que sequer estava escolhido ainda. Difícil crer que a finalidade é ter uma boa arbitragem, e não um juiz constrangido em cada possível decisão contrária aos donos da casa. Porque tudo o que o ofício do Flamengo produz é criar um clima nada propicio à boa condução do jogo. E, novamente, lá estavam os clubes em estado de permanente fricção. Se algo de ruim ocorrer, provavelmente nenhum cartola assumirá sequer uma pequena parte da culpa.

Como o Flamengo, com seu losango de meio-campo, vai defender os corredores laterais contra o Atlético-MG? E o time mineiro, forte nas transições, vai conseguir usá-las para fazer valer a vantagem construída no Mineirão? Sem Rodrigo Caio, qual defensor rubro-negro terá o papel de lidar com Hulk? Conseguirá o Flamengo ter a bola para ditar o ritmo e buscar o gol de que precisa? Há diversos elementos fascinantes no Flamengo x Atlético-MG desta quarta-feira. Mas, durante as três semanas de espera pelo encontro, falou-se em inferno, em risco de violência e em arbitragem. O futebol brasileiro segue dando bicos nas grandes oportunidades de promover seus espetáculos. Isso sim é o verdadeiro inferno.

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