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Do samba ao futebol: Império Serrano joga por acesso após vencer Carnaval


“Vejam esta maravilha de cenário. É um episódio relicário…”. O histórico

samba

-enredo ‘Aquarela Brasileira’ foi uma das muitas grandes contribuições que o

Grêmio

Recreativo Escola de Samba Império Serrano deu à

música

popular nacional. Curiosamente, 58 anos depois, o “sonho genial”, composto em 1964 por Silas de Oliveira, pode se materializar não só no

Carnaval

– após conquistar o acesso ao Grupo Especial — como também no

futebol

, a outra paixão do brasileiro que a quarta agremiação mais vitoriosa da folia carioca resolveu abraçar com unhas e dentes.

Fundado há apenas dois anos, o Império Serrano Esporte Clube — braço futebolístico da Verde e Branco do Morro da Serrinha, no bairro de Madureira (RJ) — está a uma simples vitória de obter o acesso na Série C do Campeonato Estadual, que é equivalente à quinta e última divisão do futebol carioca.

O jogo contra o Futebol Clube Rio de Janeiro acontece neste domingo (31), às 14h45, em Conselheiro Galvão — estádio do Madureira — e contará até mesmo com ação dos patrocinadores, que distribuirão três mil ingressos aos torcedores do “Reizinho da Serrinha”.

A campanha, até aqui, é para lá de animadora. O Império Serrano atravessou a fase classificatória de forma invicta, terminando na segunda colocação e com algumas goleadas acachapantes, como os 10 a 0 sobre o EC Resende, os 6 a 0 sobre o Barcelona, os 5 a 0 sobre o Brescia e os 5 a 1 sobre o CAAC Brasil.

Na partida de ida das semifinais, porém, veio o primeiro revés, com a derrota por 1 a 0 para o Futebol Clube do Rio de Janeiro. No entanto, como teve uma campanha melhor na fase de turno, garantiu a vantagem de uma vitória simples neste domingo para chegar à final e, consequentemente, obter o acesso.

“Queremos dar um passo por vez. Vamos buscar esse acesso no domingo, semanas depois começa a Série B2 e, caso estejamos nela, entraremos em campo pensando na vaga na Série B1. Espero ver o Império Serrano, em breve, na elite do futebol carioca. A partir disso, a gente vai traçando novas metas e projetando outras conquistas. O sonho é que 2022 seja um ano perfeito, pois já conseguimos o título da Série Ouro [no Carnaval carioca], voltamos ao Grupo Especial e, quem sabe, não teremos dois acessos no Campeonato Carioca também? Tenho fé que vai dar tudo certo. Confio na comissão técnica e nos nossos atletas”, disse ao

UOL Esporte

o presidente Sandro Avelar.

Time surgiu na pandemia e tem ‘cofre separado’ da escola de samba

Torcida do Império Serrano em dia de jogo em Madureira: unindo a paixão do brasileiro por futebol e samba? - João Carlos Gomes/ISEC - João Carlos Gomes/ISEC

Torcida do Império Serrano em dia de jogo em Madureira: unindo a paixão do brasileiro por futebol e samba?

Imagem: João Carlos Gomes/ISEC

A fundação do Império Serrano Esporte Clube aconteceu em 1º de agosto de 2020, em meio ao ápice da pandemia, e como uma forma de “girar a economia” da escola ao mesmo tempo que forneceria uma assistência social à comunidade da Serrinha.

“Quando assumi a presidência do Império Serrano, um desafio era tornar a escola mais moderna e que conversasse com novos públicos. E entrei logo no período do ápice da pandemia, onde não tínhamos perspectiva de Carnaval e era fundamental mantermos a escola em atividade, dentro das limitações pelo momento epidemiológico”, disse Sandro Avelar, complementando:

“O futebol foi uma saída, pois seria uma novidade ao sermos a primeira agremiação carnavalesca com um time profissional, além de olharmos para o social. Antes de ser um clube de alto rendimento, o ISEC é uma instituição voltada para jovens da comunidade que sonham em jogar futebol profissionalmente e talvez nunca iriam alcançar esse sonho”.

Apesar de defenderem as mesmas cores, a escola de samba e o time de futebol possuem “cofres separados”. Cada instituição busca seus patrocinadores e investimentos de maneira individual.

“A escola de samba e o futebol, apesar de estarem ligados pelo nome, são entidades diferentes e, desta forma, com contas separadas. O que é do Carnaval, é do Carnaval, e o que é do futebol, é exclusivo do futebol. Cada um tem seus patrocinadores, com gerência separada no que diz respeito ao financeiro”, explicou o presidente.

‘Modelo Castor de Andrade’ não é inspiração

Presidente Sandro Avelar (no camarote) se divide entre a presidência da escola de samba e a do time de futebol - João Carlos Gomes/ISEC - João Carlos Gomes/ISEC

Presidente Sandro Avelar (no camarote) se divide entre a presidência da escola de samba e a do time de futebol

Imagem: João Carlos Gomes/ISEC

Um dos capítulos mais famosos na mistura entre samba e futebol no Brasil aconteceu na década de 1980 por meio do contraventor Castor de Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel e que viu no Bangu uma forma de investir também no futebol. Na administração do Alvirrubro, o clube chegou ao vice-campeonato brasileiro de 1985, perdendo na final para o

Coritiba

.

Apesar dos elogios ao ex-bicheiro que faleceu em 1997, Sandro Avelar não vê semelhanças no projeto e descarta uma inspiração.

“O Castor de Andrade marcou época e fez o Bangu viver grandes momentos. É óbvio que eu quero ver o Império Serrano campeão sempre, mas queremos subir um degrau por vez. O ISEC não é o time de futebol do Sandro, mas de toda uma comunidade. É um sonho coletivo e que, felizmente, estou podendo ajudar a realizar”, disse, complementando:

“O futebol hoje, como em qualquer entidade, precisa de gestão e trabalho. O dinheiro ajuda, mas sem ter pilares edificados não é a certeza de sucesso. Acho que aquele romantismo de se fazer futebol das décadas passadas hoje não se aplica. Lá na época do Castor já era difícil alcançar as conquistas que foram conquistadas, hoje então, o caminho é ainda mais desafiador e requer organização. O ISEC tem suas ambições, mas trabalha com os pés no chão.”

Se divide entre escola e time, mas admite responsabilidade maior no Carnaval

Presidente Sandro Avelar na Sapucaí: Império Serrano foi campeã da Série Ouro e retorna à elite do Carnaval em 2023 - Pedro Siqueira/GRESIS - Pedro Siqueira/GRESIS

Presidente Sandro Avelar na Sapucaí: Império Serrano foi campeã da Série Ouro e retorna à elite do Carnaval

Imagem: Pedro Siqueira/GRESIS

Pode-se dizer que Sandro Avelar é um verdadeiro cria do samba. Antes de sentar na cadeira de presidente da Império Serrano, o dirigente foi ritmista, passista, mestre-sala e intérprete nas escolas em que passou. Isso tudo com apenas 35 anos. Ele é neto de um dos fundadores da agremiação da Serrinha e filho de um dos vice-presidentes nas décadas de 50 e 60.

Sua mentalidade jovem ajudou a escola a voltar à elite do samba com o título da Série Ouro este ano, e é a mesma que tem sido aplicada para conseguir gerir tanto a escola quanto o time de futebol.

“É prazeroso porque são duas paixões. O samba e o futebol representam o nosso país no mundo todo e você poder uni-los é uma maravilha. É evidente que eu sei que a maior responsabilidade é fazer o Carnaval do Império Serrano acontecer, pois é uma escola de samba gigantesca e com uma linda história. Fui eleito presidente justamente para comandar uma virada de página na escola de samba. Mas o futebol veio, acima de tudo, para ser uma diversão para os torcedores, dar oportunidades aos moradores da comunidade e fazer com que a marca Império Serrano alcance novos campos, ficando em evidência além da folia”, opinou.

Assim como na escola de samba, Avelar tem como principais desafios manter as finanças da equipe saudáveis, com salários em dia e colaboradores motivados. Além disso, procurou se capacitar no setor, fazendo cursos e contratando profissionais para auxiliá-lo na gestão do time.

“Eu sempre gostei de acompanhar os mais variados campeonatos, do europeu até os clubes de menor investimento aqui do Rio. Com a criação do Império Serrano Esporte Clube, passei a realizar cursos de gestão de futebol, estudar mais a área e estar mais dentro da realidade de um time de futebol. Claro, também busquei trazer pessoas com mais experiência no ramo, que ajudam nas contratações e na condução dos trabalhos diários do clube. Então, a montagem do elenco passa por várias mãos e visões distintas, onde sempre conversamos, debatemos e escolhemos a melhor peça para compor o elenco. É um trabalho em conjunto”, salientou.

SAF ainda não é algo cogitado

Presidente Sandro Avelar e diretoria da Império Serrano em dia de jogo do time de futebol em Madureira - João Carlos Gomes/ISEC - João Carlos Gomes/ISEC

Presidente Sandro Avelar e diretoria da Império Serrano em dia de jogo do time de futebol em Madureira

Imagem: João Carlos Gomes/ISEC

“Bumbum Paticumbum Prugurundum” é outro samba histórico da Império Serrano, composto em 1982 por Beto Sem Braço e Aluízio Machado, e que falava em tom crítico sobre as “Super Escolas de Samba S/A” com suas “super alegorias escondendo gente bamba”.

O tema, curiosamente, pode ser usado como uma analogia à chegada das Sociedades Anônimas do Futebol no Brasil. Avelar, no entanto, não cogita aderir à SAF neste momento.

“Eu acho que é muito cedo para um clube que ainda não tem dois anos pensar em SAF. Como disse anteriormente, antes de sermos um time voltado para o alto rendimento, somos uma casa de oportunidades aos jovens da comunidade. Temos a filosofia de fornecer a melhor estrutura possível, apesar de todas as limitações de um clube de pequeno porte do Rio, mas o sucesso do clube não passa somente pelo lucro”, avaliou.

Camisas com alusão a Arlindo Cruz, Ivone Lara e Zé Pilintra

Camisas do Império Serrano Esporte Clube homenageiam Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara e Zé Pelintra - Pedro Siqueira/GRESIS - Pedro Siqueira/GRESIS

Camisas do Império Serrano Esporte Clube homenageiam Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara e Zé Pelintra

Imagem: Pedro Siqueira/GRESIS

As camisas do Império Serrano Esporte Clube para a temporada fazem menções à personagens históricos da música e da religiosidade.

A camisa número 1 se chama “Vai Buscar o Meu Banjo”, e é uma homenagem a Arlindo Cruz. Já a 2 foi batizada de “Sonho Meu” e faz referência aos 100 anos de Dona Ivone Lara, outra sambista ícones da escola de samba.

Já as camisas de goleiro foram intituladas de “Quem me Protege não Dorme”, e fazem referência à Zé Pelintra, entidade que remete à religiosidade presente no Mercadão de Madureira, feira popular vizinha à agremiação e que patrocina a equipe.

Camisas do Império Serrano Esporte Clube homenageiam os bambas da escola de samba e a religiosidade - Pedro Siqueira/GRESIS - Pedro Siqueira/GRESIS

Camisas do Império Serrano Esporte Clube homenageiam os bambas da escola de samba e a religiosidade

Imagem: Pedro Siqueira/GRESIS

“O vínculo entre os bambas da escola e o time acaba existindo pois é algo novo, diferente no país e que tem tudo para dar certo. Alex Ribeiro, Arlindinho [filho de Arlindo Cruz] e tantos outros vestem a camisa do clube, mostram que estão na torcida e isso, de uma forma ou de outra, acaba ajudando na divulgação”, disse Sandro Avelar, complementando:

“Por outro lado, a gente busca também fazer essa ligação com as nossas raízes. Neste ano, lançamos camisas de jogo com alusões a Arlindo Cruz e Dona Ivone Lara, dois ícones imperianos e da música brasileira. O Arlindo, aliás, é o enredo da escola de samba para 2023 e a Dona Ivone foi em 2022. Ou seja, a gente entra já entra em campo carregando essa força”.

Para o presidente, a força da escola de samba abre portas e faz o Império Serrano Esporte Clube já nascer com uma grande torcida:

“Eu falo que o Império Serrano EC nasceu com uma grande torcida, claro, oriunda da escola de samba. Somos a quarta maior campeã. Modéstia parte, com a melhor discografia de sambas de enredo e com uma legião de apaixonados. Se o time é conhecido hoje, é graças ao nome que carregamos e que acaba abrindo portas, pois é uma agremiação renomada e inovadora”.

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