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Conheça o único empresário preto da elite do futebol


O dia 13 de maio marca a data oficial da abolição da escravatura no Brasil. Hoje se sabe que a assinatura da Lei Áurea é mais uma das formalidades que deturpam a história, oferecendo protagonismo a personagens que nunca estiveram na linha de frente da batalha. E possível comemorar algo? Em meio a uma sociedade tão racista, o futebol não fica de lado. E hoje conheceremos o único empresário de pele preta da elite do futebol. Ele é brasileiro!

Ulisses Jorge nasceu em Itaboraí, município de população humilde em sua grande maioria e que fica na região metropolitana do Rio de Janeiro. Estudou até a 3ª série do ensino fundamental, ao lado da irmã foi criado pela mãe. Saiu de casa aos 12 anos para jogar na base do Palmeiras. Foi aprovado num teste por Flavio Teixeira, o ”Murtosa”, ex-auxiliar de Luiz Felipe Scolari, se profissionalizou no clube e venceu.

Não foi um jogador de sucesso. Segundo ele próprio, por escolhas erradas que fez em sua juventude. Mas venceu! Inclusive para mostrar aos atletas que agencia hoje o que deve ser feito ou não quando a fama começa a chegar. Venceu por representar suas origens e sua cor de pele num universo exclusivamente branco e elitista!

”Já ouvi uma piadinha muito chata. Se referem a mim como peça de dominó. Preto com pinta de branco. A gente ouve isso e tenta não dar moral ao racismo, mas é difícil. Minha mãe fica revoltada, passa mal… Minha irmã conversa bastante para que eu me concentre só no que importa de fato. Minha namorada me dá apoio… Eu tenho um Deus que faz milagres, creio nele e isso aconteceu na minha vida. Chegar aonde cheguei hoje foi muito difícil. Chorava embaixo do chuveiro e recebia uma energia péssima. O racismo dói muito, mas superei tudo isso”, conta.

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Ulisses Jorge no gramado do Santiago Bernabéu

Imagem: Divulgação

Agente direto de jogadores e proprietário da UJ FootballTalent desde 2018, empresa que, entre outros, agencia atletas como Éder Militão, Vitão(Internacional) e Ramon(Red Bull Bragantino), Ulisses começou no ramo através de uma amizade com o ex-empresário português Dionísio Castro. Aceitou um convite para trabalhar no escritório dele em Lisboa. Ficou lá seis anos e aprendeu muita coisa antes de voltar ao Brasil.

Não tinha dinheiro para começar o seu próprio negócio e foi atrás de investidores. Mas não dava certo. O retorno financeiro no futebol não vem tão rápido, e seis meses depois a maioria deles desistia. Naquela época ainda era possível que os direitos econômicos de um atleta pertencessem a um empresário, e prospectando jogadores promissores, conseguiu capitalizar para começar a construir a sua estrutura.

O racismo, porém, foi mais uma pedra que Ulisses teve que suplantar na caminhada!

”Uma vez estava num escritório bem grande. E o empresário, um cara muito famoso, me perguntou se os pais dos atletas sentiriam mais confiança conversando comigo, um negro, ou com qualquer pessoa de pele branca… Me disse que eu não iria conseguir transitar naquele nível. Na hora não acreditei no que estava ouvindo. Isso marcou a minha vida. Disse que lá todo mundo era racista. Meu olho enche d´água quando lembro desse episódio. Era muito comum também os dirigentes e demais empresários me olharem com ar de dúvida quando eu me apresentava. Não levavam fé, não acreditavam. Alguns dias depois, quando percebiam que eu poderia ajudar, me ligavam”, lembra.

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Ulisses Jorge e Éder Militão (Foto: Divulgação)

Imagem: Reprodução / Internet

Outra situação que passa constantemente é ser confundido com um jogador. Frequentador das tribunas e camarotes dos principais estádios europeus, onde reside atualmente, é olhado e tratado como um atleta. É jovem, tem apenas 38 anos, mas sabemos que esse não é exatamente o motivo.

Ulisses afirma que nunca quis falar sobre o assunto por não querer se ”vitimizar”. Pensou bastante antes de contar os episódios. Recentemente, inclusive, passou por uma situação que certamente o fez expor tais fatos.

Foi associado a Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Tripa, suspeito de ter ligação com o PCC(Primeiro Comando da Capital). Mas afirma que jamais foi sócio dele. De acordo com ele, Danilo apenas levou o lateral Emerson Royal, hoje no Tottenham, até o escritório, foi um intermediário da negociação, algo normal no mercado futebolístico.

”Não vou me apossar de algo tão importante como a luta contra o racismo para justificar nada, mas é a verdade. Fazemos negócios com muitas pessoas e não há a menor possibilidade de saber de todos os detalhes da vida de cada uma delas. Tentaram me colocar como alguém que tenha ligação com o tráfico, mas é só pesquisar a minha vida. Nunca me envolvi com nada errado, e certamente se eu fosse branco não iam tratar a situação como foi abordada. Meu dinheiro é lícito e fruto do meu trabalho”, se defende.

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Assistindo a um jogo na Europa

Imagem: Divulgação

”Comecei a incomodar muita gente do ramo quando fui me destacando. Tenho certeza de que é algo plantado, tanto que nem todos os veículos de comunicação embarcaram nessa. Viram que não tinha muita credibilidade. O melhor de tudo é receber mensagens de pais de atletas que agenciamos. Desde o início demonstraram apoio e acreditaram no meu caráter. Isso é impagável. Outros empresários tentaram me queimar com isso. Tem caras no mercado há 30 anos, aí surge um negro sem estudo e disputa espaço com eles. Isso choca”, completa.

Agente de diversos jogadores pretos nos profissionais e nas divisões de base, Ulisses costuma conversar com os atletas para que tenham equilíbrio caso sofram com o racismo nos jogos, mas acredita que isso infelizmente não acabará.

”Sinceramente eu não acho que vá mudar. Quanto maior o nível que você consegue alcançar na sociedade, maior é a percepção. É como se a pessoa te aceitasse pelo que você pode oferecer, mas não te quer no mundo dela. Fico feliz quando ouço de pais de atletas que a minha história os inspira. Eles sabem que a minha origem é a mesma deles, se identificam, e dão o meu exemplo para os filhos”.

Num universo de grandes protagonistas pretos dentro de campo, é necessário pensar, debater, cobrar, e oferecer oportunidades para que as coisas sejam iguais também fora dos gramados. O número de dirigentes, empresários, treinadores e jornalistas pretos envolvidos no futebol é ínfimo! Não é por acaso! Nunca foi…

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