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Arhur Muhlenberg: ‘Flamengo se notabiliza por carregar o futebol carioca nas costas desde o século passado’


Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Responsabilidade Parental

Para muitas pessoas o futebol brasileiro, por motivos de êxodo de mão de obra qualificada, corporativismo e xenofobia das guildas e safadeza “de rigueur” da classe dirigente, vem perdendo dia a dia as suas propriedades narcóticas, fundamentais para que se atinja o grau de alienação necessária para levar o futebol a sério e esquecer do resto do mundo.

Talvez você não estivesse prestando atenção, mas a última quarta-feira foi decisiva para os destinos do Campeonato Carioca. Não somente pela protocolar vitória do Flamengo no Maracanã sobre a sua baranga de fé, previsível como uma ressaca de Semana Santa, mas também pela abrupta, mas não menos esperada, interrupção da caminhada do Fluminense rumo à perda da sua embaraçosa virgindade continental em Assunção. O Jockey Club da aprazível capital guarani, como se sabe, é onde fica o disco final de todo cavalo paraguaio.

O fato é que os dois resultados combinados foram, por caminhos tortuosos, o maior estímulo que o claudicante Campeonato Carioca poderia ter recebido. Todo mundo sabe que o Carioca hoje em dia mal paga o aluguel das nababescas instalações da FERJ no aristocrático bairro da Tijuca. É uma competição que respira por aparelhos e seu quadro geral se agravou ainda mais com a virtual clandestinidade de suas transmissões pela TV. Ainda que o Carioca esteja em sua etapa mais decisiva, na Cidade Maravilhosa só se fala em outra coisa.

O que também é normal, já que as rivalidades locais que sustentavam todo o charme e interesse no Carioca estão em baixa em função da incrível disparidade técnica, orçamentária, estrutural e aspiracional que hoje separa o Flamengo dos três patetas. Ainda assim todo ano o Flamengo está lá, se sujeitando aos caprichos federativos dos papa-goiaba e contribuindo para que os pré-falimentares coirmãos mantenham suas portas abertas, surrupiando de si mesmo tempo valioso para o aperfeiçoamento, preparação e o descanso que uma temporada insana com mais de 80 jogos impõe.

Mas os resultados obtidos pelo futebol carioca na quarta-feira em epígrafe foram um sopro de vida na monotonia pré-mortem do carioqueta. Primeiro porque o Flamengo, sempre cumpridor de suas obrigações, venceu o rival da Barreira e encaminhou sua passagem para a esperada finalíssima da competição praieira. E não foi apenas uma vitória comum, mas um triunfo rubro-negro calculado com precisão científica para não desanimar totalmente o adversário no jogo de volta.

No 1×0 macilento, onde muitos enxergaram uma alarmante ausência de brilho e panache por parte do Flamengo, o que luziu, na verdade, foi a demonstração eloquente da responsabilidade parental do Mais Querido, que não deixa seus filhos à míngua nem quando vítima das habituais pirraças e malcriações dos miúdos.

O placar modesto manteve o vasquinho vivo, adequadamente motivado para o jogo de domingo e com esperanças (ainda que loucas e desconectadas da realidade fática) de seguir na competição. Palmas pro Flamengo, o Papai do ano. Com a beneficente tirada do pé do Flamengo no Maracanã e a divertida derrota do Fluminense no Paraguai o Campeonato Carioca de 2022 decuplicou a sua importância. Para os famélicos Vasco e Fluminense, que não ganham nada há séculos, o Carioca agora é a Copa do Mundo. O Flamengo, que se notabiliza por carregar o futebol carioca nas costas desde o século passado, é um colosso que jamais se cansa de fazer o bem, e dividir com os menos favorecidos, os frutos de sua boa fortuna.

Agora sim, enfim teremos uma reta final da nossa competição rural temperada pelos designíos do instinto de sobrevivência. Não chega a ser uma garantia de bom futebol, longe disso. Mas é bastante improvável que nossos adversários se deixem levar pela força das águas que fatalmente os conduzirão ao ralo da irrelevância pelo resto da temporada sem ao menos se debater. Para Vasco e Fluminense é preciso, mais do que nunca, lutar contra o trágico destino anunciado e buscar a única centelha possível de glória antes de mergulharem na inglória luta que os espera no Brasileiro, cada um em sua respectiva divisão.

E nesta vã esperança luso-tricolor na ocorrência de algo extraordinário que, à luz dos sentidos e conhecimentos até então disponíveis, não possuindo explicação ainda conhecida, sugira uma violação das leis naturais que regem os fenômenos ordinários, também chamados milagres pelos religiosos, reside a única possibilidade que o Carioca 2022 não seja a repetição do desenxabido café-com-leite que enfastia a torcida carioca nos últimos anos.

É verdade que Flamengo, Vasco e Fluminense não jogam sozinhos essas semifinais, o Botafogo os fará companhia na reta final do certame. Mas os alvinegros de General Severiano andam sem tempo, mais ocupados em seus devaneios de como gastar o dinheiro que ainda não possuem do que em propriamente competir. No campo dos sonhos os botafoguenses lideram não apenas o Carioca, mas também a Champions League e as eliminatórias da Copa do Mundo. Deixa quieto. A boa prática médica recomenda não os contrariar.

Ainda restam ao Flamengo alguns dias dessa benemerência sócio esportiva mandatória, mas a Libertadores e o Brasileiro (de 1ª Divisão) já despontam no horizonte. É hora de um último esforço de altruísmo para terminar com a palhaçada rural para que o Flamengo e a sua torcida possam encarar as competições que realmente importam com o coração leve e a reconfortante sensação de ter feito o bem àqueles que mais precisam. Mas sem qualquer mamãezada, tem que ganhar do cara e partir rumo ao TETRA, que não passa de obrigação.

Link do Artigo do DiariodoFla.com.br

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